Cesar Garcia Lima
Poderia ter comentado a morte de Silvio Santos, mas, muito antes dele desaparecer, eu estava cansado dos domingos infantis em família, com a TV ligada, vendo a humilhação de pessoas pobres em busca de ilusão premiada. No prato, o macarrão com frango esfriava.
Poderia relembrar também quando criamos um roteiro a muitas mãos na redação da revista “Contigo!”, onde fui editor na primeira metade dos anos 1990, em que o título seria “O dia em que morreu Silvio Santos”. O foco seria uma falsa notícia sobre a morte do apresentador, que deixaria toda a redação em polvorosa para apurar o acontecido, enquanto nosso diretor, o ainda pouco conhecido autor de novelas Walcyr Carrasco, conjecturava a chamada mais sensacionalista de capa. O roteiro, na verdade, estava mais para um cordel em voz alta de cada trecho da história, com participações do Jeferson de Sousa, Paulo Cabral e não sei mais quem, além de mim.
Só que nos últimos dias tenho me lembrado do calor fogo perto do Opala cor de vinho do meu pai, ladeando a floresta do Acre em chamas, o sonho do consumo contrastando com o suposto “progresso”. Ver uma castanheira arder é como presenciar uma ch4cin4. Mas os ipês ainda floresciam na praça da Revolução Acreana, em Rio Branco.
Então veio a seca do ano tomando conta de tudo, engolindo os grandes rios amazônicos e se reproduzindo no Sudeste, com causas difíceis de apurar.
Na redes sociais, Altino Machado, meu amigo desde adolescência e jornalista desde sempre, chama atenção para os caminhões que passam na sua porta no bairro Alto Santo, na capital acreana, com as toras de madeira abatidas como numa chacina vegetal interminável que o poder público não quer ver. Mas vocês já sabem do carvão que consome o país, como uma vocação de destruição patrocinada pelo destempero do agro e da sanha extrativista que não cessa de nos retirar tudo, principalmente o futuro.