Em seu aniversário de 75 anos de lançamento, “Pavor nos bastidores” (com o título
original de “Stage fright”, ou seja, “medo do palco” [Prime Video]), suspense noir
dirigido e produzido por Sir Alfred Hitchcock, rejuvenesceu a carreira de Marlene
Dietrich, apoiando-se em seus talentos de cantora, atriz e mulher fatal. Ela viveu aí
Charlotte Inwood, estrela dos palcos londrinos. Vestida por Christian Dior e às voltas
com canções de compositores como Cole Porter, Marlene teve um tratamento
privilegiado por parte de Hitchcock, cineasta conhecido como grande controlador. Ele
deu a ela a oportunidade de escolher a iluminação de suas cenas, pois sabia que ela
havia aprendido muito sobre a arte cinematográfica em seu trabalho com Josef von
Sternberg.
Atriz e cantora alemã, naturalizada estadunidense, Marlene Dietrich (1901-1992) teve
uma vida que daria um filme. A história começa em Berlim, em seu apogeu, os anos
1920, quando era o terceiro maior município do mundo e se destacava não só no cinema
(Fritz Lang, diretor de “Metrópolis” [1927]), na literatura (Alfred Döblin, autor de
“Berlin Alexanderplatz”[1929]) e na arquitetura (Bauhaus [1919–33]), como também
em outras áreas. Era onde todos os artistas queriam estar naquele momento, pois dali
emanava o Zeitgeist, ou seja, o espírito daquele tempo. Nesse período, Marlene
trabalhou no teatro e no cinema também em Viena. Ao final da década, ela encontrou o
cineasta Josef von Sternberg, para quem protagonizou o antológico filme “O anjo azul”
(1930), que alcançou sucesso internacional.
Na década de 1930, Marlene Dietrich chegou a Hollywood, para ser a Greta Garbo
alemã. Sob a orientação de von Sternberg, com quem fez seis filmes nos EUA em um
período de cinco anos, ela logo transformou sua imagem, tornando-se uma estrela
glamurosa e misteriosa, especialista em papéis de femme fatale. Já em seu primeiro
filme estadunidense (“Marrocos” [1930]) atuou de forma ousada, usando numa cena
uma vestimenta masculina e beijando outra mulher. Não demorou para que Marlene
passasse a ser uma das artistas de melhor cachê daquela época.
Em entrevistas, a atriz alemã revelou que autoridades do Partido Nazista lhe ofereceram
contratos extremamente lucrativos para que ela voltasse à Alemanha e se tornasse a
principal estrela de cinema do regime de extrema direita. Marlene recusou tais ofertas e,
em 1937, solicitou a cidadania estadunidense, que lhe foi concedida em 1939, quando
então renunciou à cidadania alemã. Ela se opôs fortemente aos nazistas e, ao longo da
Segunda Guerra Mundial, se engajou em organizações e atividades em favor de
refugiados e combatentes. Posteriormente veio a ser agraciada pelo governo francês
com a Legião de Honra por seu trabalho durante a Guerra.
A partir da década de 1950, Marlene Dietrich dedicou-se aos espetáculos musicais, com
apresentações em grandes teatros nas principais cidades do mundo. Os críticos
apontavam que ela, além de ter competência técnica e domínio da audiência, transmitia
uma força misteriosa, típica de alguém que confia em sua própria mágica. É a própria
definição de uma estrela: das telas, dos palcos, da canção.
MARLENE, SIMPLESMENTE
