Com o recente lançamento de “Conclave” (2024), dirigido por Edward Berger e escrito por Peter Straughan a partir do romance homônimo de Robert Harris, os mistérios do Vaticano, sede da Igreja Católica, voltam ao centro das atenções. Essa abordagem do sagrado e do profano é uma estratégia clássica do cinema ocidental, que inspirou, dentre outros, filmes como “Anjos e Demônios” (2009/Max), dirigido por Ron Howard a partir do romance de Dan Brown, e “Dois Papas” (2019/Netflix), dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e escrito por Anthony McCarten. Da trama de ação de “Anjos e Demônios”, passando pelo suspense de “Conclave” ao diálogo quase íntimo de “Dois Papas”, vários aspectos da cidade-Estado independente, criada em 1929 pelo Tratado de Latrão, são exibidos nas telas.
O principal personagem dos três filmes é, evidentemwnre, a própria Cidade do Vaticano. Esse enclave murado de aproximadamente 44 hectares dentro da cidade de Roma, capital da Itália, é reconhecido mundialmente por alguns de seus pontos, atualmente turísticos. Em primeiro lugar, está a Praça de São Pedro, projetada pelo artista italiano Gian Lorenzo Bernini (escultor, urbanista, arquiteto, pintor, cenógrafo, dramaturgo e figurinista). Nela está situada a basílica de mesmo nome, cujo estilo remonta ao Alto Renascimento Italiano, tendo sido construída de 1506 a 1626. Já a Capela Sistina, que está localizada no Palácio Apostólico, residência oficial do Papa na cidade-Estado, é parcialmente decorada com afrescos de Michelangelo, além de ser o local onde atualmente é realizado o conclave papal, o processo por meio do qual um novo papa é selecionado em reunião secreta.
“Anjos e Demônios”, “Conclave” e “Dois Papas” compartilham o cenário do Vaticano em circunstâncias bem diferentes.
“Dois Papas”, que retrata diversos encontros entre o Papa Bento XVI (Anthony Hopkins) e o futuro Papa Francisco (Jonathan Pryce) em 2012, tem, por exemplo, cenas na Capela Sistina e nos Jardins do Vaticano. Mas o que importa é exibir a relação de cumplicidade, intimidade e respeito que vai sendo construída entre o Papa e o Cardeal (Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires), embora um seja conservador, e o outro, progressista. Então, nada com aparência turística cabe aí. Mesmo quando estão em lugares muito conhecidos da cidade-Estado o que interessa é a escala humana dos dois personagens históricos, o que contrasta com um ambiente grandioso que muitas vezes chega a parecer opressivo.
Os bastidores da seleção de um novo papa, momento particularmente importante no Vaticano, são o tema de “Conclave”. A trama aí sai também das áreas públicas e repeoduz partes quase nunca vistas: quartos dos cardeais, escritórios, refeitório etc. Tudo gira em torno de Thomas Lawrence (Ralph Fiennes), decano do Colégio dos Cardeais, empenhado em garantir a correção da reunião secreta, embora lute com dúvidas relativas a sua própria fé. É um filme de suspense, em que revelações vão surgindo progressivamente. Intrigas, luta pelo poder traições: situações em que os renomados líderes da Igreja se revelam pessoas extremamente falhas. Surgem ali racismo, misoginia e despotismo. Mas a descoberta do último segredo da história vale o ingresso.
Finalmente, “Anjos e Demônios”, caracterizado pelos especialistas como thriller de suspense, é mais uma aventura do simbologista Robert Langdon (Tom Hanks) na franquia iniciada com “O Código da Vinci” (2006/Max), agora às voltas com a tentativa de impedir um ataque terrorista ao Vaticano, que mais uma vez lida com um conclave. Não só são utilizadas imagens com características de cartão postal da cidade-Estado como também de Roma. O que era sutil nos dois filmes anteriores aqui se torna espetacular. “Anjos e Demônios” está repleto de ação e reviravoltas, sociedades secretas e conspirações.
Qual seria o melhor retrato do Vaticano? Para quem quer mergulhar na história e compreender de forma realista a transição de um papa conservador para um papa progressista: “Dois Papas”. Para o espectador sofisticado que deseja conhecer os subterrâneos do Vaticano e o cotidiano dos cardeais: “Conclave”. Mas para quem busca um entretenimento ligeiro com cenas sensacionais da cidade-Estado, nada melhor que “Anjos e Demônios”. E essas são apenas três das muitas visões cinematográficas do enclave mais famoso do mundo.