DETOX DAS MÁQUINAS
Penso em um título para descrever o momento: “Detox”. Meu intuito é anunciar uma breve parada no início de 2025 de modo a me afastar um pouco do mundo digital, para depois voltar com mais novidades… ao mundo digital! Não adianta dar muitas voltas: a não ser que pudesse me isolar num retiro de segurança máxima, sem redes sociais, sem sinal de internet, sem máquinas, estaria distante do bombardeio de notícias, posts, links e interação ininterrupta das redes sociais. O bom e o péssimo se misturam, o problema é que é sempre em excesso.
A primeira vez que ouvi a expressão “detox digital” (ou algo semelhante) foi há alguns anos na série “Crônicas de São Francisco” (veja na Netflix) dita por uma personagem secundária, ou seja, não eram os personagens de Laura Linney, Olympia Dukakis ou Murray Bartlett. Aquilo me pareceu um pouco absurdo, talvez porque minha vida ainda fosse um tanto quanto analógica, movimentada por contatos presenciais, aulas, escritas de artigos acadêmicos, idas ao cinema e até algumas festinhas de aniversário. Hoje em dia, passar por um detox digital, desconectar totalmente, parece uma necessidade e ao mesmo tempo uma proposta de pouca duração. De qualquer maneira, vou tentar investir em uma breve temporada de silêncio e me desconectar nas duas primeiras semanas de janeiro. Passarei bem? Terei uma crise de abstinência para dar uma espiada nos posts catastróficos ou dancinhas célebres? Só o tempo dirá.
Depois da expansão da internet, o uso de palavras em inglês passou a ocupar de maneira tão ostensiva o nosso vocabulário que é quase impossível viver sem elas. A França tenta apostar em traduções locais, mas não vejo muito espaço para que essa tendência prospere por aqui. Em alguns casos, a concisão da língua inglesa se impõe, como no caso de spoiler, difícil de traduzir com apenas uma palavra. “Estragador?” “Desmancha-prazeres?” Fica difícil.
Detox é fácil: é uma desintoxicação, que pode ser de conteúdo, de alimentação. No caso de alimentação, que também estou perseguindo faz algum tempo, a lista de não recomendados é imensa: glúten, açúcar, álcool, lactose… Vou resumir o que procuro evitar: produtos industrializados em geral, ainda que estejamos quase fatalmente condenados ao mundo das embalagens.
Lembro da estátua “O pensador”, de Auguste Rodin, no museu que leva o nome do artista, em Paris, que originalmente levava o título de “O poeta”, em homenagem a Dante Alighieri. Desintoxicar, muitas vezes, é apenas parar para pensar na vida, com a cabeça apoiada com uma das mãos sobre o joelho, porque nunca sabemos o que está por vir.
Feliz 2025!