O Carnaval no Brasil é sempre muito quente. Não só pelos recordes de temperaturas, mas também pelo entusiasmo de uma celebração cultural que inclui o cinema. É uma oportunidade então para revisitar filmes nacionais que abordam a festa do rei Momo.
No Brasil da alegria tudo começa com a cantora Carmen Miranda (1909-1955), que brilhou no Cassino da Urca (Rio de Janeiro) e conquistou Hollywood. Carmen foi uma sambista inigualável e lançou inúmeros sucessos de carnaval, como “Pra Você Gostar de Mim [Taí]” (Joubert de Carvalho), “Mamãe eu quero” (Vicente Paiva/Jararaca) ou “Camisa Listrada” (Assis Valente). É a maior referência da cor local, com sua típica vestimenta de baiana estilizada, seus balangandãs e seu sorriso contagiante. Como esquecer de seu gingado e do movimento de suas mãos? Pois Carmen Miranda levou o carnaval para o cinema. Em 1936, com direção de Adhemar Gonzaga, ela é o destaque da comédia musical “Alô, Alô, Carnaval” (Cinédia), em que canta “Querido Adão”, uma marchinha de Benedicto Lacerda e Oswaldo Santiago, e também “Cantoras do Rádio”, de Lamartine Babo, em dueto com sua irmã Aurora. No YouTube podem ser encontrados vídeos com a participação das cantoras no filme.
Dos anos 1940 aos anos 1960, a produtora carioca Atlântida lançou filmes carnavalescos no ambiente das chanchadas, comédias musicais de humor ingênuo e popular. Esse gênero talvez tenha sido a maior contribuição do país à história do cinema. “Carnaval Atlântida” (1952/disponível no YouTube), dirigido por José Carlos Burle, é um bom exemplo de filme de carnaval. Trata-se de mais uma paródia de produções de Hollywood, repleta de números musicais, com um elenco composto pelos maiores astros brasileiros da época: Oscarito, Eliana Macedo, Cyll Farney e Grande Otelo. A concorrente da Atlântida no setor de filmes carnavalescos era a Produções Cinematográficas Herbert Richers, responsável pelo lançamento de “Bom Mesmo é Carnaval” (1962/disponível no YouTube), dirigido por J. B. Tanko. A comédia serviu de veículo para Zé Trindade, outro gênio da chanchada.
Em plena década de 1970, já em uma fase bem distinta do cinema nacional, então às voltas com a experimentação do Cinema Novo de um lado e a opressão política de outro, foi preciso retomar a folia. “Quando o Carnaval Chegar” (1972/disponível na Globoplay), dirigido por Cacá Diegues, se encarregou disso. O filme tem músicas de Chico Buarque, que também faz parte do elenco, ao lado de Nara Leão e Maria Bethania. Quase ao fim da película, Chico, Nara e Bethania apresentam justamente “Cantoras do Rádio”, do filme de Carmen Miranda, evocando talvez tempos mais felizes. “Quando o Carnaval Chegar” tem uma atmosfera mambembe que reativa uma ingenuidade muito valorizada anteriormente no cinema nacional. Além disso, há na trilha do filme canções como “Partido Alto”, “Baioque” e “Bom Conselho”. É folia, mas com consciência política. Em tempos de carnaval, alegria rima com história.