“The White Lotus” (Max), a premiadíssima série criada por Mike White, é desde 2021
um dos maiores sucessos do streaming. Originalmente produzido pela rede de televisão
por assinatura HBO, o programa já está em sua terceira temporada. É uma sátira, ou
seja, uma ficção que, de forma mordaz, ridiculariza os vícios ou costumes de uma
época, de um grupo ou de uma pessoa. “The White Lotus” tem tido como protagonistas
hóspedes e funcionários de uma rede de resorts de alto luxo, que são observados durante
uma semana. A primeira temporada foi no Havaí, a segunda, na Sicília, e a terceira, na
Tailândia. No programa há situações extremamente bizarras que envolvem quase todos
os personagens, o que tem provocado polêmicas nas redes sociais e repercussão
escandalosa na mídia. No entanto, a série é realmente uma grande expressão do
pensamento do próprio Mike White sobre o modo atual de existir neste mundo.
Californiano de Pasadena, Michael Christopher White é filho de Lyla Lee e James
Melville “Mel” White. Por conta dos antecedentes religiosos de seu pai, Mike, que é
declaradamente bissexual, cresceu de forma modesta em uma comunidade cristã
conservadora. Contudo, em 1994, Mel revelou-se homossexual e se tornou ativista. Já é
um primeiro conflito interessante entre sexualidade e religião na moldagem da
complexa personalidade de Mike e de seu ponto de vista peculiar, fora da curva como se
diz atualmente.
Após graduar-se em Inglês e Artes Cênicas na Wesleyan University, White, mudou-se
para Los Angeles, na Califórnia, onde conseguiu trabalho como produtor e roteirista de
séries como “Dawson’s Creek” (1998/2003) e “Freaks & Geeks” (1999/2000). No
cinema, foi ator e roteirista de “Escola de Rock” (2003/Disponível no Telecine), filme
cujo protagonista foi Jack Black, com quem, aliás, fundou a produtora Black and White.
Além de Black, outra parceria importante na trajetória de Mike White foi com a atriz
Laura Dern. Juntos eles criaram a série “Enlightened” (2011-2013/HBO), em que ela foi
a protagonista (Amy Jellicoe), e ele, roteirista e ator. Esta aí uma primeira demonstração
televisiva do estranho humor de White. Amy é uma mulher à beira de um ataque de
nervos. Auto destrutiva, ela põe a perder sua carreira como executiva, mas tenta se
reabilitar com uma overdose de auto ajuda e tratamento holístico. É realocada numa
área de processamento de dados, algo completamente incompatível com sua ambição de
“mudar o mundo”. Lá, de qualquer forma, conhece Tyler (Mike White), de quem se
torna amiga. É uma dupla dinâmica de personagens retratados como perdedores, mas
que têm um dom inspirador para a sobrevivência.
Mike White é vegano e afirma, segundo o IMDb, que isso é algo muito sério em sua
vida. Ele relata que seu cão parece com um porco, e que tanto um como o outro tem sua
personalidade e capacidade de sentir dor. “Quando estabeleço essa conexão, não tenho
como ignorar o sofrimento animal. Então, se você em algum dia tiver amado um cão,
um gato ou mesmo um ser humano, espero que estenda essa compaixão a todos os
animais.”
O genial Mike White tem conseguido o inusitado feito de conciliar sátira e compaixão.
Seus personagens revelam os sintomas do mal estar na civilização contemporânea e são
mostrados de maneira cômica e crítica. Mas é sempre possível ver como eles se sentem,
quais são seus desafios e seus dilemas. Afinal, o humor talvez seja a maneira mais
amorosa de lidar com o mundo.