Por que os filmes de desastre são apreciados por tantos espectadores? Algumas hipóteses podem ser mencionadas. Em primeiro lugar está a própria situação de quem vê esses filmes: o perigo e o caos são experimentados, mas a audiência está em ambiente seguro, no cinema ou em casa, longe, portanto, de riscos reais. A curiosidade pelos casos de catástrofe é satisfeita como um sonho mau que passa logo. Além disso, há o elemento catártico. Medos coletivos, como mudanças climáticas, pandemias e desastres naturais, são processados sem maior desgaste ou descontrole, afinal geralmente o filme tem um final razoavelmente feliz. E aí entra outro fator: quase sempre são apresentados homens comuns que se comportam como heróis em momentos de extrema dificuldade, o que pode servir de inspiração para o público.
Terremotos (Turquia e Síria) e acidentes aéreos (Coréia do Sul e São Paulo) foram destaques no noticiário internacional em 2024. São situações terríveis e que trazem muita preocupação a todos. No cinema, porém, esse pavor é amenizado pelo espetáculo cênico. Os efeitos visuais impressionam e distraem, permitindo conviver com algo que no cotidiano chega a ser insuportável.
Há uma infinidade de filmes de desastre produzidos sobretudo pelos estúdios de Hollywood. Algumas dessas produções se tornaram clássicos do gênero. “Inferno na Torre” (1974/Prime Video), dirigido por John Guillermin, talvez seja o melhor exemplo do auge da catástrofe no cinema, a década de 1970. Foi o maior sucesso de bilheteria do ano de seu lançamento. No caso, o desastre é causado pela irresponsabilidade humana. Um arranha-céu de escritórios de 138 andares em San Francisco, inspirado pelo World Trade Center, arde na festa de sua inauguração porque a parte elétrica da obra foi finalizada com descuido. O projeto do arquiteto Doug Roberts (Paul Newman) havia sido desconsiderado, e o pior acontece. Destaque para uma belíssima e sagaz Faye Dunaway no papel de Susan Franklin, a noiva de Roberts.
Os filmes de desastre podem ser premonitórios. Veja o caso de “Contágio” (2011/Prime Video), dirigido pelo magistral Steven Soderbergh, que aborda a rápida disseminação de um vírus altamente contagioso, bem como os esforços de cientistas e autoridades da área de saúde para identificar e conter a doença. Além disso, antes que uma vacina seja introduzida, mostra-se um caos social mundial quando a contaminação se torna um flagelo. Como indica o slogan do filme: “Nada se espalha como o medo”. O elenco estelar é formado por Matt Damon, Jude Law, Marion Cotillard, Kate Winslet e Gwyneth Paltrow. Como era de se esperar, o filme voltou a chamar atenção em 2020 por conta da emergência da pandemia de COVID-19.
A crise climática está redimensionando o conceito de “desastre”. Para além de incêndios em torres ou acidentes aéreos, o cinema tem se dedicado a tratar atualmente do próprio fim do mundo. “Não Olhe Para Cima” (2021/Netflix), dirigido por Adam McKay, traz uma forma satírica de lidar com a catástrofe. Um cometa que colidirá com a Terra em um período de aproximadamente seis meses é descoberto por cientistas. Embora incialmente ninguém pareça dar importância ao problema, a ameaça é revelada à imprensa, e, daí em diante, uma grande confusão política e social ganha corpo. Os filmes de desastre costumam contar com muitos astros, e “Não Olhe Para Cima” confirma a regra: Jennifer Lawrence, Leonardo DiCaprio, Meryl Streep, Cate Blanchett.
Os espectadores talvez estejam começando a perceber que mesmo em uma sala de cinema já não estão em um ambiente seguro. O mundo aproxima cada vez mais a audiência de riscos reais. Hollywood que se esforce para continuar fazendo da catástrofe um espetáculo.