Ultimamente, o Oriente não tem nos proporcionado boas notícias e cheguei um ponto no qual não aguento mais saber dos bombardeios ao vivo, da vilania reinaugurada a cada dia e que não poupa ninguém. Na tentativa de saber o que está acontecendo na Palestina, Irã e Israel, percebi o óbvio: é uma curiosidade perversa ficar ligado na competição de drones e bombas, e que talvez a música seja no momento a minha maneira de vibrar pela paz. Lembro dos apelos pacíficos de John Lennon e de Gandhi e de como acabaram assassinados. Lutar pela vida quase sempre leva a um encontro antecipado com a morte.
Durante a semana, visualizei com triste alegria o vídeo de autoras e autores brasileiros de origem judaica na leitura do poema “Esperando por você”, do palestino Ahmad Assuq, traduzido por Felipe Benjamin Francisco, com a hashtag
“nãoemnossonome”. A solidariedade além das nações é sempre bem-vinda, mas pouco tempo depois que o vídeo foi divulgado começaram os bombardeios de Israel no Irã e o revide deste último a Telaviv.
Cansado do terror ao vivo, mudo de canal, literalmente, para o You Tube. Tenho pensado cada vez mais em seu estatuto de mídia social e não de rede social, possibilitando a formação de acervos on line e não apenas de perfis patrocinados. O canal que sintonizo é o Deep Soothing Relaxation e o vídeo se chama Indiana Tradicional Sitar Música; me deixo levar. Na imagem fixada na tela, o elefante e o pavão apreciam o som do sitar, o que me apazigua na manhã fria. De repente, uma publicidade sobre embutidos interrompe a tranquilidade da música, seguido por outro anúncio sobre um masterclass para montar uma agência de IA e ganhar uma fortuna. Sinto um alívio quando a música volta a tocar e me inspira a contemplação.
Em meio ao caos dos estímulos digitais contemporâneos, em que cada um parece falar sua própria língua, a música e a poesia ajudam na introspecção e proteção psíquica de um mundo em crise econômica, social e climática, no qual a pergunta é sempre como faremos para continuar por aqui sem agredir o outro e o planeta. Mas a pergunta soa ingênua em um momento da história da humanidade em que quase tudo pode ser reinventado por um prompt bem direcionado na inteligência artificial. O cotidiano é hipermidiatizado, mas a estratégia é analógica: dê uma chance à paz na sua casa, no seu bairro, sem fazer disso uma tarefa da IA.