Cesar Garcia Lima
O cafona é o lugar-comum. Em tempos de superexposição, dizer e fotografar tudo para exibir no virtual é o suprassumo da cafonice. Nada a ver com patrulha cultural nem reprise da novela “O cafona” (1971): é preciso ter clareza que transformar em vídeo ou texto para a tela toda experiência vivida ou presenciada é flagrante da falta de interlocução real. Dito de outra maneira: o exagero de postagens é sintoma de solidão crônica generalizada, que substitui o convívio por “engajamento”, palavra capturada das lut4s soci4is.
Trato do cafona em nível pessoal, claro. Há quem poste um café com espuma de leite em forma de forma de coração e pense que é produção de conteúdo. Não é uma condenação, é uma circunstância de quem considera o post uma obrigação existencial para o agora: expor a vida como um boletim de ocorrência, num passo a passo sobre o banal.
Sempre me lembro de uma jovem cronista que, nos primeiros anos de redes sociais, postou simplesmente “coca-cola”. Estava em crise criativa, o que não impediu que recebesse várias curtidas. Imagino que estivesse sozinha e cansada: sua coluna no jornal não durou muito tempo. Naufragou no cafonice do consumo, é uma pena.
Kitsch, camp, brega… O espectro do cafona pode atingir vários graus ou se imiscuir em conceitos teóricos com os quais não vou lidar aqui. Vou ficar apenas no retorno do cafona contemporâneo que é a compulsão de fatiar o dia-a-dia em dezenas de posts como se fosse inteligência (?) artificial. Adeus, intimidade! Você encontra um amigo na rua e já sabe que ele fez uma viagem de férias porque postou em cada esquina que visitou no Nordeste ou, em outra variação, na Europa, para dar inveja a quem não tem euros para gastar. As fotos dos filhos, sobrinhos ou netos já não são mais amassadas nas carteiras para serem mostradas no trabalho ou em festinhas, estão todas nos perfis das redes sociais. Não há mais novidades, apenas repercussão do mundo virtual. Definitivamente, não cair no cafona é manter um pouco de mistério do existir e guardar uma carta na manga para mostrar pessoalmente.