Uma imagem de desolação, feita por drone, não sai da minha mente desde a semana
passada. Nela vemos a publicitária brasileira Juliana Marins, 26 anos, sentada na
encosta do segundo maior vulcão da Indonésia, o Monte Rinjani, depois de ter
escorregado não se sabe como, ao se separar do grupo e do guia que visitavam o local.
Como já é de conhecimento de todos, Juliana, que era de Niterói, RJ, não resistiu e as investigações prosseguem, com muitas lacunas, com uma aura de tristeza que envolve o desaparecimento de alguém tão jovem em busca da realização de um sonho de ter um ano sabático para viajar.
Esse contraste entre alta tecnologia e inabilidade humana me surpreende todos os dias. Ao que consta, Juliana foi deixada para trás pelo guia do grupo que a conduzia no Rinjani, mas me pergunto como foram capazes de manejar um drone sem que nenhuma orientação, agasalho ou comida tenha chegado até ela a tempo de poupar sua vida.
Há muitos e muitos anos, em 1987, em uma temporada semelhante à de Juliana, mas na
Europa, eu também me deixei levar pelo entusiasmo quando estive em Napóles e fui
visitar o Monte Vesúvio, nas cercanias da cidade. O acesso era relativamente fácil,
orientado pelo “Guide de Routard” (algo como Guia do Mocheileiro), publicação
francesa que era uma espécie de Bíblia para quem, como eu, se propunha a fazer uma
viagem de trem pela Europa usando um passe de estudante válido por dois meses. Meu orçamento era baixíssimo, e me autoimpus uma diária de no máximo dez dólares, aproveitando os percursos mais longos para dormir nos trens.
Assim, mesmo que eu duvidasse um pouco disso, lá estava eu nas bordas do Vesúvio,
vulcão que povoava minha imaginação desde criança, nas leituras sobre a erupção que
dizimou Pompéia em 79 a.C. A tragédia de Juliana me fez lembrar disso, história já
esquecida pelo tempo e sem imagens, porque a máquina fotográfica barata (Olympus) que eu levava comigo travou e perdi todas as fotos ao expor o filme. Para falar a verdade, já não sei se fotografei aquele momento em que eu, sozinho, cheguei às bordas do Monte Vesúvio e senti o chão, literalmente, se esfarelando sob os meus pés. Eu não fui até lá com guia, mas simplesmente peguei uma espécie de van que me deixou junto com outros turistas naquele monte fumegante, com a fumaça saindo da cratera a pouco distância, talvez uns 50 metros. Sim, ainda caminhei um pouco observando o terreno, mas não havia muita coisa para ver, o que importava era sobretudo o ambiente algo sinistro e alguma paisagem ao longe.
Na mesma viagem, visitei Pompéia, aos pés do Vesúvio, e vi os corpos paralisados pela
lava da famosa erupção que destruiu a cidade. Ainda lá, me surpreendi diante dos afrescos bem conservados da Vila dos Mistérios, como se já os conhecesse de uma outra vida. As imagens evocam o que parece ser um culto a Dionísio envolvendo figuras femininas.
Nem posso imaginar a situação e a dor vividas por Juliana em sua queda e por sua família ao saber do ocorrido, mas a imagem do drone me trouxe de volta à memória as bordas de um vulcão e de como esses passeios são inseguros, incluindo o que fiz sem guia nenhum. Que esses sonhos de descoberta da juventude possam não serem mais esfacelados pelas condições precárias e falta de cuidado dos humanos envolvidos.