Com o filme “Maria Callas” (2024) em cartaz, estrelado pela estadunidense Angelina Jolie, o controvertido cineasta chileno Paul Larraín completa sua trilogia sobre mulheres célebres do século XX. Suas obras anteriores foram “Jackie” (2016/Prime Video), sobre Jacqueline Lee Bouvier Kennedy Onassis, que foi casada com o presidente dos EUA John F. Kennedy (de 1953 a 1963) e com o magnata grego Aristóteles Onassis (de 1968 a 1975); e “Spencer” (2021/Prime Video) sobre Diana, Princesa de Gales (nascida Diana Frances Spencer). Outro filme sobre Callas, dirigido pela neozelandesa Niki Caro e com a atriz sueca Noomi Rapace como protagonista, está em fase de pré-produção.
Soprano absoluto natural, ou seja, com grande extensão vocal e facilidade de interpretação de todo reportório para seu timbre, a cantora greco-americana Maria Callas nasceu em Nova Iorque em 1923. O nome que constava em sua certidão de nascimento era Sophie Cecilia Kalos. Em seguida, passou a ter Maria como primeiro nome. Ela recebeu sua educação musical em Atenas, Grécia, e teve sua estreia nos palcos em 1938. Em 1945, retornou aos EUA e partir daí construiu efetivamente sua carreira internacional no mundo da ópera.
O reconhecimento do talento de Maria Callas foi acompanhado de muita polêmica. Em 1956, numa matéria de capa da revista “Time”, foi resumido todo o folclore em torno da cantora: que era temperamental, além de alimentar rivalidades com outras divas da ópera etc. Com efeito, Callas se envolveu em notórias disputas que fizeram até com que perdesse contratos. Entretanto, seu talento musical nunca foi colocado em questão. O maestro Leonard Bernstein, por exemplo, afirmou que ela era “a Bíblia da ópera”.
A grande personagem Maria Callas também abalou o mundo por feitos em sua vida pessoal. De 1953 a 1954, em um ano portanto, perdeu surpreendentemente mais de trinta quilos, o que teria acontecido por conta de uma simples dieta de baixa caloria. Há quem diga que a perda de peso prejudicou sua voz, mas também opinam que sua nova aparência contribuiu para sua qualidade interpretativa. Já nos anos 1970, Callas atribuiu seu declínio vocal não à perda de peso, mas sim a uma dificuldade crescente em sustentar o diafragma.
O grande amor de Callas foi o mesmo Onassis que veio a casar com Jackie. Foi um romance tempestuoso que, ao acabar, levou Maria à depressão grave. Ela morreu em 1977 em Paris, França, aos 53 anos.
A colossal capacidade interpretativa de Maria Callas foi inicialmente levada ao cinema por ela mesma. Em 1969, fez o papel título da tragédia “Medeia”, de Eurípides, adaptada pelo cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, que teria concebido o filme como uma canção de amor para Maria. Foi uma consagração entre os críticos.
Muito antes de Larraín e Caro, o encenador italiano Franco Zeffirelli, que dirigiu várias óperas estreladas por sua amiga Maria Callas, prestou uma homenagem à diva com o filme “Callas Forever” (2002/disponível no Youtube). Zeffirelli encontrou na atriz francesa Fanny Ardant a atriz ideal para a representação do último outono parisiense de Callas. Mesmo com a extravagância da película, bem ao gosto de Zeffirelli, em seu último trabalho no cinema, a interpretação de Fanny foi ovacionada pela crítica internacional.
Apesar dos esforços dos realizadores, Maria Callas ainda é muito maior do que os filmes já feitos sobre ela. O tempo dirá se a extraordinária cantora ainda terá a devida representação no cinema. Tomara que sim.