Karl Mor
Queer não é necessariamente alegre. Pode ser comédia, mas muitas vezes não. Tem a ver certamente com amor, em rima pobre com dor. Menos festa, mais perplexidade. Resistência, estranheza, revolta, excentricidade. Sexualidade, com certeza, em sintonia porém com abandono, rejeição e muitas vezes abuso. Aqui algumas preciosidades do queer cinematográfico.
“As lágrimas amargas de Petra Von Kant” (1972), do alemão Rainer Werner Fassbinder (1945-1982). Uma estilista arrogante e egocêntrica se apaixona por uma jovem superficial e fútil que deseja ser modelo. O filme trata desse caso de amor e ódio, bem como de sua ruína. A narrativa é lenta e em profundidade de campo.
“Blue” (1993), do inglês Derek Jarman (1942-1994). Com iconoclastia e romantismo, o diretor retraça a história de sua vida, sua luta com o HIV e uma cegueira progressiva. Por conta disso, na tela só se vê uma imagem azul, e a narrativa é conduzida pelo som.
“Rosas selvagens” (1994), do francês André Téchiné (1943). No sul da França, em 1963, quatro amigos adolescentes descobrem o amor e a política em meio a tensão e emoções. Delicadas imagens revelam memórias complexas.
“Felizes juntos (1997)”, do chinês Kar-Wai Wong (1956). Produzido a partir da leitura do romance “The Buenos Aires affair”, escrito pelo argentino Manuel Puig (1932-1990), o filme aborda a trajetória conturbada de dois amantes que vão para o outro lado do mundo, mas permanecem na mesma incomunicabilidade.
“Clube dos pervertidos (2004)”, do estadunidense John Waters (1946). Com extravagância e sarcasmo, o diretor mete o dedo na ferida de uma família suburbana, mesclando puritanismo, repressão, etarismo e vício em sexo.
“Hoje eu quero voltar sozinho” (2014), do brasileiro Daniel Ribeiro (1982). Um adolescente cego, sempre às voltas com sua melhor amiga, vê seu cotidiano mudar inteiramente com a chegada do angelical Gabriel. Um retrato fascinante do amor e da inocência.
“Great freedom” (2021), do austríaco Sebastian Meise (1976). Por ser homossexual e impetuoso, um homem, na Alemanha do pós-guerra, é encarcerado várias vezes e relegado à abjeção. Aos poucos, perde o interesse até pela liberdade.