Há quem pense que qualquer ator eficaz pode estar à frente dos grandes filmes de Hollywood. Fosse assim não haveria salários milionários nem culto a astros e divas. O que a indústria do cinema quer é justamente o denominado “star quality”, expressão em inglês que se refere ao charme e ao carisma que alguns parecem expressar naturalmente. É muito mais do que competência, mas algo mágico que faz a atriz ou o ator se destacar e brilhar como uma estrela.
Hollywood costuma produzir determinados filmes que são denominados “veículos”, ou seja, películas destinadas a valorizar as características típicas de um determinado astro. A hipótese, muito razoável, é que muitas vezes o grande público vai ao cinema ao encontro de suas estrelas favoritas em performances que retomam seus melhores atributos. É efetivamente consumir mais do mesmo com extremo prazer.
Ao longo da história do cinema ocidental, são tantos os astros a mencionar que é obrigatório escolher alguns em detrimento de outros. Não dá para dizer qual é a figura de maior carisma, mas é inevitável mencionar algumas, como Marilyn Monroe, Bette Davis, Elizabeth Taylor, Audrey Hepburn, James Dean, Julia Roberts, Brad Pitt ou Tom Cruise. Um astro é alguém que, como se diz, “abre um filme”, ou seja, leva o público ao cinema. E isso não acontece com muita frequência. Note-se que aqui são evocados apenas alguns astros de Hollywood, que privilegia atores anglo-americanos. Se fosse o caso de tratar de todo o cinema ocidental, seria necessário citar nomes de com indiscutível star quality, como Marlene Dietrich, Catherine Deneuve, Juliette Binoche, Sophia Loren, Penélope Cruz, Sonia Braga ou Alain Delon.
Por muitos, Marilyn Monroe é considerada a melhor representação de estrela de cinema. Ela trouxe para os filmes que atuou um bombástico apelo sexual misturado com um toque inconfundível de inocência. Mas o assim chamado “star system” (sistema de astros montado e mantido pelos grandes estúdios de Hollywood) foi extremante cruel com ela. Seus filmes rendiam fortunas, mas ela ganhava pouco. Para além de sua aparência, seu talento não foi suficientemente reconhecido. Ainda com dificuldade para sustentar seu papel na indústria cinematográfica, Marilyn morreu quando ainda tinha apenas 36 anos.
No filme “A malvada” (1950) houve o encontro de Marilyn Monroe e Bette Davis, atriz que é considerada por outra parte do grande público a maior estrela de Hollywood. O brilho de Bette deve-se a elementos bem distintos. Em primeiro lugar, é uma estrela que teve notório reconhecimento por sua habilidade como atriz, o que fez, dentre outras coisas, com que ganhasse dois prêmios da Academia, tendo sido indicada inúmeras vezes. Bette é famosa pela força de seu olhar, por uma personalidade forte, por uma inteligência que saltava da tela. Com efeito, talvez ninguém tenha deixado uma marca tão intensa no sistema de astros. Que ninguém se engane: sem star quality não existe cinema.