Karl Mor
Os principais encontros deste cinéfilo com a obra do cineasta François Truffaut (1932-1984) foram três: os filmes “A noite americana” (1973), “O último metrô” (1980) e “A mulher do lado” (1981). Provavelmente esse foi também o trajeto de outros nascidos na década de 1960 ou um pouco antes.
“A noite americana”, visto na verdade em 1980, foi uma descoberta da linguagem cinematográfica usada afetivamente. Truffaut, embora figura emblemática da Nouvelle Vague (movimento do cinema francês que durou cerca de dez anos, a partir do fim da década de 1950) manteve uma concepção clássica na maneira de fazer filmes. Não buscava uma revolução no cinema, mas realizações pessoais e sinceras. Seu grande mestre foi declaradamente Alfred Hitchcock, com quem fez “Hitchcock/Truffaut”, um livro de entrevistas publicado em 1966 que fez com que o mundo desse o devido valor artístico ao gigantesco cineasta britânico.
Já “O último metrô” foi o acontecimento de uma geração. Uma sublime história de amor na Paris da ocupação nazista, em que não se podia perder o último metrô por causa do toque de recolher. Uma Catherine Deneuve luminosa em uma interpretação que lhe deu seu primeiro César. Aliás, o grande prêmio francês de melhor diretor desse ano foi justamente para Truffaut. E houve também premiações por melhor filme e melhor roteiro.
O terceiro filme da trilogia nesta homenagem a Truffaut é “A mulher do lado”, uma obra de maturidade sobre o abismo do desejo. Uma mulher encanta e leva ao desespero um homem de vida pacata. Essa mulher é vivida por Fanny Ardant, atriz que foi a última esposa do cineasta.
Aos 52 anos, François Truffaut, o diretor mundialmente consagrado e no auge de sua criatividade, foi ceifado por uma doença grave e sem tratamento possível. E pensar que ele poderia ter continuado a produzir até este século. Dá realmente saudade, muita.