Karl Mor
Existem atores que são grandiosos, mesmo sem experimentar a celebridade óbvia. A atriz inglesa Rosamund Pike, nascida em 1979, acumula 36 prêmios, dentro os quais o Globo de Ouro de 2020 pela comédia “Eu me importo”. No entanto, ela tem um modo peculiar e criterioso de escolher seus papéis no cinema, no teatro e na televisão. “Você sempre pode manter a discrição, se quiser”, declara (IMDb). Ou seja, Rosamund é uma artista que não está particularmente preocupada com a fama, mas com a realização de projetos que lhe pareçam relevantes.
O filme “Saltburn”, escrito e dirigido por Emerald Fennell, foi a escolha da atriz em 2023. Um trabalho bem reconhecido, afinal ela foi indicada a 18 prêmios, incluindo o Globo de Ouro e o prestigioso Bafta (ambos como melhor atriz coadjuvante). Já o filme teve uma recepção conturbada. Afinal, é uma obra realmente difícil de digerir, com cenas de gosto duvidoso. E um final tão confuso que provocou vídeos explicativos no YouTube. De qualquer modo, eis aí mais um gesto corajoso de Rosamund Pike ao ceder sua presença a um projeto de alto risco. A indicação ao Oscar de melhor atriz já tinha vindo em 2014 pelo papel de Amy Dunne no filme “A garota exemplar”, dirigido por David Fincher e escrito por Gillian Flynn, a partir de seu romance homônimo. Para interpretar Amy, Rosamund desbancou atrizes como Natalie Portman, Charlize Theron e Emily Blunt. Como o filme demonstra, Fincher fez a escolha perfeita para revelar a transformação dessa mulher aparentemente impecável que desaparece e é tomada como morta.
Ao longo do filme, Amy surge cada vez mais surpreendente e empoderada, graças ao trabalho singular e vívido de Rosamund. Ela dá uma aula magna em atuação, mostrando-se a um só tempo cínica, desesperada e vulnerável. “A garota exemplar” foi apenas uma das memoráveis atuações de Rosamund Pike. No entanto, talvez saiba-se menos sobre ela do que seria adequado. Rosamund está em plena atividade. E seu talento é tão poderoso que dá alegria imaginar o que ainda vai proporcionar ao público.