Karl Mor
O romance “O talentoso Mr. Ripley” foi publicado pela escritora estadunidense Patricia Highsmith em 1955. Conta a história de Tom Ripley, um gentil e misógino psicopata de vinte e cinco anos. A primeira adaptação do romance para o cinema foi “O sol por testemunha” (1960), dirigido pelo francês René Clément. Ripley é vivido por Alain Delon, então com 25 anos também. Não só por isso Delon é o Ripley perfeito. Com um brilho perigoso nos olhos, esbelta corporalidade e letalmente felino, ele dá complexidade ao personagem, friamente bonito na superfície e sinistro no interior. Sua quase sobrenatural perfeição é como a imitação de um ser humano. Mesmo assim, é ingênuo e inexperiente. Delon apresenta a encarnação mais crua e sexualmente sedutora da ambição de um personagem ilegível. Ripley é meticuloso na escolha do momento oportuno, tem raciocínio rápido e imaginação brilhante. Cada movimento seu é friamente calculado e baseado numa quase total ausência de escrúpulos. O desejo de Ripley permanece um mistério.
Na versão do cineasta britânico Anthony Minghella, “O talentoso Ripley” (1999/Netflix), o ator Matt Damon, aos 29 anos, exibe o personagem de Highsmith como um vibrante oportunista. Damon parece até mais novo do que o Ripley do romance e age como um garoto, que então começa compreender seu próprio poder, embora ainda cometa erros tolos. Ele se magoa facilmente e é desleixado, sendo às vezes salvo no último minuto pela estupidez dos outros personagens. Andrew Scott, protagonista da minissérie “Ripley” (2024/Netflix), dirigida pelo estadunidense Steven Zaillian, tem quarenta e sete anos, quase o dobro da idade do Ripley do romance. No entanto, ele esbanja vitalidade no papel. Em preto e branco intenso, o Ripley de Scott tem humor peculiar. Ele é frio, desidratado de cor e de emoção humana, mas carismático. Para alcançar esse requinte, Scott usa e abusa com maestria das expressões fisionômicas e da linguagem corporal. Cada Ripley é perigoso a sua maneira: numa vingança passional, numa explosão sentimental de violência ou num golpe de predador. E todas essas ações são obras de arte.