Cesar Garcia Lima
João do Rio tibubeia entre as pedras escorregadias do Largo da Matriz. Os leitores estão ávidos por suas crônicas e reportagens transformadas em livro, expostos sem pudor na praça, nas casas, nas livrarias e também em lugares onde a luz é difícil de alcançar.
As pessoas não o reconhecem, apesar de apertarem os olhos diante da figura rotunda de terno, gravata e chapéu. O vento anuncia chuva, que cai calma de tempos em tempos, como se estivesse ali só para promover o pânico tolo. O cronista estende o olhar até o telão de fundo azul e desenhos vermelhos no fundo da praça e se admira com a qualidade do cinematógrafo, que mostra três mulheres conversando sobre literatura. Não entende que tempo é este em que as pessoas usam poucas roupas e falam das telas, dos pequenos aparelhos móveis, sem dispensar o grito na praça superlotada.
Ao caminhar mais um pouco, o escritor ultrapassa a igrejinha fechada e entra numa casa vistosa, com um gramado à frente e pequenas luzes acesas em forma de guirlanda. A casa tem um corredor extenso entre duas salas frontais, com janelões dos quais pode se avistar o oceano. Ele tenta conversar com um casal. Ninguém lhe dá ouvidos, mas riem como se suas palavras fizessem cócegas nos ouvidos. Todos estão com livros nas mãos, dos quais lêem trechos e recitam poemas curtos e provocativos. João do Rio pensa um pouco, reflete que se sente melhor ali do que em Paris e tira a roupa. Ensaia uma dança engraçada e ri, andando no sentido do mar.