Karl Mor
O cinema e psicanálise foram inventados na mesma época. Sigmund Freud (1856 – 1939), fundador da psicanálise, uma das mais grandiosas figuras da história, aparece frequentemente nas telas. Os filmes sobre Freud, no entanto, raramente conseguem revelar a complexidade desse personagem como indivíduo, como teórico e como psicanalista.
Recentemente a Max tornou disponível "A última sessão de Freud" (2023), dirigido pelo estadunidense Matt Brown, uma abordagem dos últimos dias do psicanalista, interpretado por Sir Anthony Hopkins (1937). Mas a grande obra sobre o formulador do conceito de "inconsciente" provavelmente continua sendo um clássico de John Huston (1906-1987), "Freud, além da alma" (1962), com a primorosa interpretação de Montgomery Clift (1920-1966) como protagonista.
Baseado na peça homônima de Mark St. Germain, o filme "A última sessão de Freud" narra um suposto encontro do psicanalista com o escritor irlandês C. S. Lewis (1898-1963), vivido pelo inglês ator Matthew Goode (1978). Lewis era um apaixonado difusor do cristianismo e entra em choque com o ateísmo de Freud. O que acaba acontecendo é um complexo debate sobre o sentido da religião e os fundamentos da psicanálise em Londres no começo da Segunda Guerra Mundial. A interpretação de Hopkins é robusta, mas o filme se ressente de sua origem teatral. De qualquer forma, é um entretenimento sofisticado.
A produção de "Freud, além da alma", sofreu com mudanças importantes de roteiro e sobretudo em função da dificuldade para comprimir uma história repleta de detalhes intrincados em pouco mais de duas horas. A filmagem, em Munique e Viena, durou mais de cinco meses e consumiu o dobro dos recursos previstos no orçamento original. Para além de seus percalços, o filme é uma obra prima e dá a Montgomery Clift, um ator quase sempre subestimado, a oportunidade de revelar com precisão o dilema de Freud enquanto este ainda se detinha na hipnose para compreender a histeria. Os esforços de Brown e principalmente de Huston são valiosos. Mas ainda é muito pouco se o objetivo é abordar no cinema a contribuição de Sigmund Freud para a compreensão da existência humana.