Karl Mor
Embora agitada por sérias revoltas no momento, Paris é sempre Paris. De qualquer forma, há mesmo quem diga que a cidade é um lugar comum irrespirável. Isso para os brasileiros, que se encantam irremediavelmente com o majestoso conjunto arquitetônico da cidade, a Torre Eiffel, os inúmeros jardins, os Campos Elíseos, o Arco do Triunfo. O imaginário estadunidense também vai por aí quando o assunto é Paris. Melhor dizendo, leva essa fantasia às últimas consequências. Um exemplo é a série "Emily em Paris" (Netflix, 2020), criada por Darren Star, já em terceira temporada. Nela a protagonista está o tempo todo de roupa de grife sem que haja nenhuma explicação para isso, e os personagens invariavelmente se encontram em pontos turísticos. A estética de cartão postal em vez de levar ao fascínio conduz ao cansaço. É a retórica de uma lição do velho livro didático de língua francesa dedicada a "Paris Luxo".
Os produtores franceses costumam ser mais realistas em relação a sua capital. É o caso da comédia “Dix pour Cent” (Netflix, 2015), série criada por Dominique Besnehard e outros. Paris está lá, mas sem deslumbramento. É a história de um grupo de agentes que trabalham com as maiores estrelas do país, mas vivem de forma trivial. Gente como a gente, como se diria. Paris em sua condição cotidiana, na qual muitos prédios não têm elevador, e o aquecimento elétrico é caríssimo. Não é a cidade em que Audrey Hepburn cantava pela rua em “Cinderela em Paris” (1957), dirigida por Stanley Donen e com música de George Gershwin. O sonho dourado da garota americana que tem um emprego de balconista: ser descoberta por um grande nome da moda e de uma hora para outra tornar-se uma modelo de sucesso. Pode acontecer, mas só se for em Hollywood. De qualquer forma, estar em Paris, dentro ou fora de um filme ou uma série, é formidável. E ninguém vai reclamar se você acordar na cidade-luz (mais um clichê) em um dia ensolarado e gritar da janela “Bonjour, Paris!”.