Karl Mor
O documentário “Faye” (2024), disponível em Max/HBO e dirigido por Laurent Bouzereau, aborda a carreira e a vida da atriz estadunidense Dorothy Faye Dunaway, nascida em 14 de janeiro de 1941, em Bascom, na Flórida. O filme trata de aspectos da trajetória de Faye que a atriz nunca antes aceitou discutir, como seu “temperamento difícil” e a má decisão de aceitar o papel de Joan Crawford no polêmico “Mamãezinha querida” (1981). Essa arriscada escolha foi um divisor de águas na carreira da atriz. No próprio documentário, fala-se em Faye “antes e depois de “Mamãezinha”. Ou seja, um percurso cinematográfico de glória e prestigio na década de 1970 sucedido por filmes pequenos ou fracassados a partir de 1982. O que paradoxalmente pouco teve a ver com a qualidade do trabalho da atriz, que continuou a ser elogiado.
Faye Dunaway recebeu seu único Oscar por “Rede de Intrigas” (1976), dirigido por Sidney Lumet, em que interpretou uma agressiva diretora de programação de televisão obcecada pelo sucesso, um personagem que marcou época ao quebrar o molde da mulher afável e submissa. O filme também deu a ela o Globo de Ouro. Além disso, ganhou o Bafta (1968), um Emmy e mais dois Globos de Ouro (1984 e 1988). Faye recebeu uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood em 1996 e foi nomeada Oficial da Ordem das Artes e Letras pelo governo francês em 2011.
O percurso pela premiada carreira de Faye Dunaway contextualiza a volta às revelações do documentário “Faye”. Em primeiro lugar surge a questão do “temperamento difícil” da atriz, que estaria relacionado sobretudo a um transtorno bipolar. No entanto, existe no caso o recorrente preconceito com a “atriz exigente”, algo que não incomoda tanto quando se fala de homens. Também é tocante a menção a “Mamãezinha querida”, quando a atriz reconhece que foi um erro ter aceitado o papel, mas responsabiliza o diretor por ter se omitido em relação a sua interpretação e ter contribuído para que o filme se tornasse uma caricatura. Infelizmente quem pagou pela desastrosa realização de “Mamãezinha…” foi Faye Dunaway, a única jóia daquela coroa.