A arte do figurinista é traduzir na roupa a personalidade, o histórico social e a evolução do personagem cinematográfico. Para além dos diálogos, as informações básicas da caracterização são transmitidas pela vestimenta. Na sua realização, o figurino depende de vários elementos técnicos, como o conhecimento sobre tecidos, o domínio da modelagem e o entendimento da anatomia.
Outro aspecto fundamental da prática do figurinista é a pesquisa histórica, que supõe a investigação sobre determinados períodos para a reprodução de vestimentas de diferentes épocas. A partir da leitura do roteiro, são criados esboços, e, quando os figurinos estão prontos, ocorrem as provas e os ajustes com os atores. Note-se que o figurinista trabalha de forma semelhante na produção de uma obra contemporânea.
Um dos figurinistas mais originais da história do cinema é o estadunidense Bob Mackie. Nascido na Califórnia em 1939, começou sua trajetória no cinema de Hollywood no início dos anos 1960. Seu talento foi incialmente percebido pela lendária estilista Edith Head, que então trabalhava nos estúdios Paramount. Um dos primeiros destaques na carreira de Mackie foi a criação do vestido usado pela atriz Marilyn Monroe em 1962 na celebração do aniversário do presidente John F. Kennedy no Madison Square Garden em Nova York.
Mackie é conhecido por seus figurinos imaginativos e extravagantes, nos quais usa e abusa de brilho e de cores intensas. Ele foi três vezes indicado ao Oscar de Melhor Figurino: em 1973, por “O ocaso de uma estrela” (“Lady Sings the Blues”); em 1976, por “Funny Lady”; e em 1982, por “Dinheiro do céu” (“Pennies from Heaven”).
“O ocaso de uma estrela” é o grande destaque da filmografia do figurinista. Estrelado por Diana Ross, que por ele foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz, o filme narra a história da cantora Billie Holliday, nascida em 1915 e morta aos 44 anos, a partir de sua autobiografia de 1956. A ambientação na assim chamada Era do Jazz é refletida numa representação elegante da moda afro-americana da época. Com algo do glamour da Broadway, os figurinos de “Lady Sings the Blues” exploram os tons metálicos os escuros, numa variação de luz e sombra, como a própria vida de Billie, entre o resplendor do palco e as trevas do vício.
Há ainda uma famosa pareceria criativa entre Bob Mackie e Cher iniciada na década de 1970. Ela usou dezenas de trajes criados por ele e de uma certa forma encarna a mulher ideal do figurinista: bonita, alta, magra, excêntrica, espirituosa. Em 1988, ao receber o Oscar de Melhor Atriz por “Feitiço da lua”, Cher vestiu uma das criações mais célebres de Mackie, descrita como uma performance visual: preto, prata, transparências, decote profundo. Assim como Cher, Bob Mackie não apenas tem mostrado genialidade em sua arte como trazido humor para o muitas vezes árido âmbito da indústria cinematográfica.