Jhonatan Zati
Como cadeirante, tive o imenso prazer de mergulhar nas páginas do livro “Feliz Ano Velho” (Objetiva, 2006), de Marcelo Rubens Paiva (1959), e gostaria de compartilhar minha experiência e opinião sobre essa obra que tanto me marcou. Na idade em que eu estava, 16 anos, não havia tido muito contato com textos que lidassem com a deficiência física pelo ponto de vista juvenil, fora do tom “clínico” ou professoral. Dessa maneira, esse livro me forjou como PCD, mesmo tendo eu uma deficiência diferente da que o autor tem.
Uma das coisas que mais me tocou foi a forma como o livro retrata o primeiro contato de Marcelo com sua nova realidade como cadeirante. Ele reflete profundamente sobre os desafios enfrentados por pessoas com deficiência e, ao mesmo tempo, mostra força de vontade para superar as dificuldades cotidianas. O melhor é que ele jamais esconde na narrativa as dificuldades, inclusive a de aceitar-se como pessoa com deficiência, o que não é sempre rápido ou tranquilo.
Deparar-se com limitações no auge da juventude e da vitalidade transforma radicalmente a vida de uma pessoa. Mas é importante lembrar: cada pessoa com deficiência é diferente e vive de modo diverso a deficiência. O livro retrata a jornada de Marcelo Rubens Paiva enquanto enfrenta as adversidades físicas e emocionais, transmitindo sua perspectiva única e refletindo sobre sua própria vida e as dificuldades que podem surgir ao longo do caminho.
Ler “Feliz Ano Velho” foi uma experiência reveladora para mim como adolescente cadeirante em busca de representação e compreensão. Como adulto, posso afirmar que esse livro continua sendo uma obra incrivelmente poderosa e relevante. Ele captura a complexidade das emoções e desafios que enfrentamos ao lidar com uma deficiência, ao mesmo tempo em que nos mostra a importância de perseverar, encontrar apoio nas relações pessoais e buscar a felicidade em meio às adversidades. “Feliz Ano Velho” é uma leitura atemporal que continua a inspirar e ressoar em mim, reforçando a importância da empatia, da superação e da valorização de cada momento da vida.
Marcelo Rubens Paiva
