Cesar Garcia Lima
Na última semana, o fogo subiu nas florestas da Amazônia e atingiu o Sudeste. O ato criminoso de atear fogo às matas para abrir caminho para o pasto expandiu suas labaredas pelo Brasil adentro, chegando com alarde ao interior de São Paulo e às imediações de Brasília. O Pantanal já tinha sofrido sua carbonização, mas o fogo paulista, claro, parece chamar mais atenção por seu poderio econômico. O noticiário insiste em dizer por dias seguidos que Rio Branco, a maltratada capital acreana, é a cidade mais poluída do mundo. O Acre aparece, assim, como o primo miserável reduzido a cinzas por incêndios criminosos e inflamado pela maior seca das últimas décadas.
A ajuda governamental ainda é tímida diante do recente socorro às enchentes do Rio Grande do Sul. O enterro da floresta, anunciado há décadas, continua prosperando onde o agronegócio avançou desde os anos 1970, quando a extração de borracha, já em queda, passou a dar espaço para o gado e a exploração desenfreada de madeira.
A música de Deivid, por ironia, tem um ritmo animado, como uma cúmbia que convida a dançar, mesmo que o motivo seja trágico
Cesar Garcia Lima
Eis que assisto ao clipe “Defumação”, do cantor acreano Deivid de Menezes, com participação de Maya Dourado e imagens aéreas de Márcio Garcia do Acre, postado nas redes sociais pelo professor e pesquisador Isaac Melo, do blog “Alma Acreana”. “Tão defumando o Acre igual pelota de borracha/ Ai eu não quero viver assim/ Rio Branco está ficando cinza/ Rio Acre quer se esconder/ Lá nos fundos dos quintal/ Fogueira/ Fogueira/ Fumaça/ Fumaça/ Lá nas fazendas de gado/ Queimada/ Queimada/ Fumaça/Fumaça”, diz a letra, numa extraordinária síntese da situação que compara a fumaça das queimadas com a defumação da borracha. Produto de maior expressão da economia amazônica desde o século XIX e que teve um novo ciclo durante a Segunda Guerra Mundial, o látex defumado ganhou uma sobrevida comercial com o recrutamento dos chamados Soldados da Borracha, sobre os quais fiz um documentário de mesmo nome, disponível no site do IPHAN. A música de Deivid, por ironia, tem um ritmo animado, como uma cúmbia que convida a dançar, mesmo que o motivo seja trágico.