Karl Mor
“Ai, ai, ai, ai/ É o canto do pregoneiro/ Que com sua harmonia/ Traz alegria/ In South American Way.” Assim começa uma das canções mais famosas de Carmen Miranda em sua fase hollywoodiana. Ela faz parte da trilha sonora do filme “Serenata tropical” (1941), disponível na plataforma de streaming Looke. Rita Lee, aliás, decretou, em “Arrombou a festa” (1977), que sucesso no estrangeiro ainda é Carmen Miranda. Talvez alguém ainda queira saber a razão desse esplêndido triunfo. Quase nada a ver com política de boa vizinhança. Carmen já era uma artista completa antes de ir para os EUA em 1939. Para compreender o fenômeno Carmen Miranda basta ver uma de suas apresentações. Que voz melodiosa, que ginga sensual, que gestos inebriantes, que fisionomia mágica. É uma longa jornada desejo adentro. E ainda nem foram mencionados aqui seus principais instrumentos de feitiçaria: os figurinos e adereços, essa festa para os olhos.
A recente reabertura do Museu Carmen Miranda, no Flamengo, Rio de Janeiro, oferece uma oportunidade para retomar o encanto e o espetáculo da falsa baiana nascida em Portugal e carioca de coração. O acervo do museu é composto por 3.348 itens. Dentre eles, figurinos usados pela artista, fotografias raras, objetos pessoais e registros históricos. É impressionante o cuidado com que Carmen escolhia cada elemento de sua cena. Não por acaso ela inspirou artistas mundo afora, fascinados com seu espetáculo kitsch. Mas nada ali era casual ou ingênuo. Carmen dominava a produção de seu próprio efeito.
O museu foi reaberto com a exposição “Viva Carmen”, sob a curadoria dos escritores Ruy Castro e Heloisa Seixas. Castro, biógrafo da artista, é uma escolha impecável para esse trabalho. Há décadas ele vem apresentando as preciosidades do Rio de Janeiro em suas idades de ouro, como aquela que foi vivida por Carmen. Além disso, tem feito compreender a importância de Carmen Miranda para a cultura e o entretenimento neste país. A exposição “Viva Carmen” mostra bem o que é que a falsa baiana tem. E promove uma viagem no tempo para saborear a experiência da arte da Pequena Notável.
O museu está localizado no Parque do Flamengo, em frente ao número 560 da avenida Rui Barbosa.