Karl Mor
Talvez tenha causado alguma surpresa o fato de Franz Rogowski, alemão nascido em 1986, ter ganhado o prêmio de melhor ator de 2023 concedido pelo Círculo de Críticos de Cinema de Nova York pelo filme “Passages”. Trata-se afinal da premiação cinematográfica de maior prestígio artístico nos EUA. Mas Rogowski não é propriamente um ator revelação. Ele tem construído uma sólida carreira no cinema e trabalhado com renomados cineastas europeus. A novidade é sua consagração estadunidense e seu novo status de astro internacional.
Em 2017, por exemplo, Rogowski foi dirigido por Michael Haneke em “Happy End” (Amazon Prime Video) interpretando com assombro a ovelha negra de uma rica família disfuncional, um papel secundário que, no entanto, rouba a cena de um filme protagonizado por ninguém menos do que Isabelle Huppert. Já em 2021 ele protagoniza “Great Freedom”, de Sebastian Meise (Mubi), em que um homem é repetidamente encarcerado por ser homossexual na Alemanha do pós-guerra. Rogowski apresenta uma atuação minimalista, totalmente pertinente para um personagem que vem sendo destituído gradativamente de sua condição humana.
Contudo foi “Passages” (2023; Mubi), dirigido por Ira Sachs, que colocou Franz Rogowski no mapa mundial. No filme, ele interpreta um cineasta que, embora tenha um companheiro (Ben Whishaw), começa um relacionamento tempestuoso com uma professora (Adèle Exarchopoulos). Impressiona o modo como Rogowski revela todo o caos que passa a ser a vida do cineasta, com a confusão de sentimentos marcando sua expressão fisionômica e sua postura.
O ano de 2023 foi aliás excelente para os atores alemães. Além da consagração de Franz Rogowski pela crítica de Nova York, note-se a carreira que Sandra Hüller vem fazendo com “Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet, e “Zona de Interesse”, de Jonathan Glazer. Hollywood mais uma vez esboça um esforço de ir além do circuito anglo-americano e passa a valorizar outros talentos. E quem ganha com isso é certamente o grande público.