Karl Mor
Distante da direção cinematográfica desde 2018, quando realizou “A pé ele não vai longe”, o estadunidense Gus Van Sant, nascido em Louisville, Kentucky, em 24 de julho de 1952, volta a dar o ar de sua graça autoral na televisão ao dirigir seis episódios da minissérie “Feud: Capote vs. The Swans” (2024; Star+), projeto em que também atua como produtor executivo.
A minissérie é uma criação do renomado Ryan Murphy (“Pose”) e descreve a delícia e a dor da relação do escritor Truman Capote (1924-1984) com um grupo de mulheres de alta sociedade da Nova York das décadas de 1960 e 1970.
A premissa do programa pode parecer fútil e talvez seja mesmo, sobretudo para um cineasta da estatura de Gus Van Sant, ganhador de Melhor Filme e Melhor Diretor em Cannes em 2003 por “Elefante”.
O cinema de Gus Van Sant é predominantemente independente. Mesmo quando ele trabalha para grandes estúdios, sua visão singular contamina seus filmes. Há neles uma nítida rejeição da heteronormatividade, e seus protagonistas costumam ser membros da comunidade LGBTQ que vivem à margem da sociedade.
Van Sant tem uma proximidade com seu colega cineasta Todd Haynes. Os dois nem sempre abordam situações homoeróticas em um determinado filme, mas trazem para ele uma sensibilidade divergente, fugindo dos lugares-comuns deste mundo. É o caso do “Segredos de um escândalo” (2023),de Haynes, ou do “Gênio indomável” (1997), de Van Sant.
Além do internacionalmente consagrado “Elefante”, os filmes “Drugstore cowboy” (1989) e “Garotos de programa” (1991) forjam a marca registrada de Gus Van Sant. O primeiro apresenta a trajetória de um grupo de toxicomaníacos que assaltam farmácias e hospitais para manter seu vício, o segundo, em estilo vanguardista para a época, trata de amizade e da busca pelas origens.
Com suas realizações excêntricas, Gus Van Sant reivindica o respeito pelos indivíduos marginalizados, sem visibilidade no cotidiano e no cinema. Ele pode mesmo ser caracterizado como um autor, ou seja, um artista que marca irrepreensivelmente o espírito destes tempos.