Karl Mor
Etarismo é a discriminação contra indivíduos ou grupos com base na idade, o que tem a ver predominantemente com idosos. Isso diz respeito, sobretudo, ao processo de envelhecimento, incluindo os atos discriminatórios contra pessoas mais velhas, bem como as práticas e políticas que perpetuam estereótipos sobre pessoas idosas. O idoso vai se tornando cada vez mais invisível mesmo no contexto da família e da sociedade como um todo, sendo muitas vezes subestimado como se não estivesse mais ali.
No mundo dominado pela Barbie, em que ser ou parecer jovem é indispensável, deve-se prestar atenção no etarismo nas artes. O cinema, aliás, tem sido uma eficiente vitrine da discriminação contra os idosos. Um belo exemplo é “A Senhora da Van” (2015), um filme britânico dirigido por Nicholas Hytner, que está disponível para locação no Prime Video. A senhora (na verdade, senhorita) em questão é Mary Shepherd (Maggie Smith), que mora em uma van em um distrito residencial de Londres. Os moradores da rua em que o veículo está estacionado tentam ignorar a existência de Mary, mas, eventualmente, algumas pessoas lhe ofertam comida e presentes. Entretanto, há quem tome uma atitude ameaçadora, como um homem misterioso a quem Mary se vê forçada a dar dinheiro.
Assim, a trama se alterna entre condescendência, ameaça, agressão e insulto para mostrar o cotidiano de uma idosa inglesa, sem casa, sem família e sem amigos. De uma forma brutal, o filme revela a dor da velhice e a persistência do etarismo. Ainda bem que Maggie Smith está ali para mostrar com extraordinária solidariedade e talento a complexidade da senhorita Shepherd.