Karl Mor
Estilo é algo que se repete voluntária e prazerosamente. O prazer é sobretudo do público. Para compreender isso, basta acompanhar a carreira da estadunidense Sandra Bullock. Em “Cidade perdida”, por exemplo, uma comédia de aventura com toques românticos, lançada em 2022, com direção de Aaron e Adam Nee, já disponível na Netflix, ela exercita uma forma sutil de atuação cômica. Sua personagem é uma pessoa introvertida, muito inteligente, aparentemente sem carisma, mas isso dá a Sandra a oportunidade de chegar bem ao cômico sem apelação.
A personagem de Sandra em “Cidade perdida” se aproxima de outro, que ela viveu no macarrônico “As bem-armadas”, de 2013, dirigido por Paul Feig e disponível no Star+. Mais uma vez, uma mulher retraída que seria invisível não fosse a comédia refinada de Sandra. São gestos, olhares e uma forma sagaz de rir de si mesma que fazem a mágica. Além disso, o filme tem a histriônica Melissa McCarthy, que estabelece um extraordinário contraste com Sandra.
Sandra Bullock surpreendeu a muitos em “Um sonho possível” (2009), dirigido por John Lee Hancock (HBOmax). É um drama de formação concentrado na relação de uma mulher burguesa com um rapaz pobre de quem se torna tutora. Mesmo com essa história simples, ela traz seu toque de humor, que torna sua pragmática personagem mais convincente. Esse papel deu a Sandra um Oscar de Melhor Atriz, o que talvez tenha parecido estranho para alguns. Mas a arte da comédia também serve ao drama, e os votantes da Academia conseguiram compreender a engenhosidade da atriz.
Em 2013, “Gravidade”, o thriller de ficção científica dirigido por Alfonso Cuáron (HBOmax), deu a Sandra mais uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Muitos pensam que ela deveria ter ganhado aí sua segunda estatueta. Afinal, ela constrói no filme uma personagem inteiramente distante da comédia romântica. Sandra já não precisava provar nada a ninguém. Sua carreira segue como deseja, já que é produtora de vários de seus filmes. Uma combinação estupenda de estilo, talento e eficácia.