“O Clube do Crime das Quintas-Feiras” (2025, Netflix), dirigido por pelo estadunidense Chris Columbus, exibiu Dame Helen Mirren em um momento de descontração. Aos 80 anos, ela interpretou Elizabeth, antiga espiã do MI6, o serviço de inteligência estrangeira do Reino Unido. O filme, uma mistura de comédia e mistério, se tornou um dos mais assistidos da plataforma. No elenco também estão Pierce Brosnan e Ben Kingsley, mas é Helen quem conduz a trama com carisma e magnetismo. São amigos septuagenários que vivem em uma comunidade de aposentados e se divertem solucionando casos arquivados, mas a situação se transforma quando eles se veem diante de seu primeiro crime ao vivo.
Egressa da Royal Shakespeare Company, Helen se destacou ainda nos anos 1960 como intérprete de papéis clássicos. Ao migrar para o cinema, ousou escolher personagens marcados pela sensualidade e pela ousadia, como no polêmico “Calígula” (1979), de Tinto Brass.
Nos anos 1980, Mirren consolidou-se em papéis de peso, como a bruxa Morgana em “Excalibur, a Espada do Poder” (1981)”, dirigido por John Boorman, e “Cal – Memórias de um Terrorista” (1984), de Pat O’Connor, filme em que viveu a viúva de um policial que se envolve com um guerrilheiro e pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Atriz em no festival de Cannes.
De 1985 a 2005, Helen se dividiu entre o cinema e a televisão. E a consagração como atriz veio em 2006 com “A Rainha”, de Stephen Frears. Ela interpretou Elizabeth II nos dias subsequentes à morte da princesa Diana, numa composição exemplar, de contenção dramática, poucos gestos e expressão controlada, com que transmitiu toda a tensão de um momento de repercussão internacional. A atriz venceu o Oscar, o BAFTA e o Globo de Ouro. A partir de então, passou a ser uma intérprete de referência para papéis históricos. Seu nome tornou-se quase sinônimo de realeza e solenidade no cinema.
Aliás, Helen Mirren foi nomeada Dame Commander of the Order of the British Empire (DBE) em 2003, pelo então Príncipe Charles (hoje Rei Charles III). Esse é o título feminino equivalente a Sir e representa uma das mais altas honrarias do sistema de distinções britânico. O título de Dame é concedido a mulheres que se destacam em áreas de relevância nacional ou internacional. No caso de Helen, a honra veio pelos serviços prestados às artes dramáticas, em reconhecimento à sua contribuição excepcional ao teatro, à televisão e ao cinema britânico.
Depois de “A Rainha”, Helen Mirren voltou a surpreender. Em um movimento estratégico lançou-se ao cinema de grande público. Aceitou papéis em “RED: Aposentados e Perigosos” (2010, Telecine) e “RED 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos” (2013, Telecine) e na franquia “Velozes e Furiosos” (a partir de 2017, Prime). Dessa forma, se aproximou de uma audiência mais jovem. A escolha reforçou sua imagem de artista versátil, mas também pragmática, com a devida consciência da necessidade de estar presente em superproduções.
Também neste ano de 2025, foi lançada “Terra da Máfia” (Paramount+), dirigida por Anthony Byrne, em que Helen Mirren encarnou Maeve Harrigan, matriarca de uma família criminosa em meio a uma violenta disputa de poder. A série deu à atriz a oportunidade de construir uma personagem de densidade dramática e de registro sombrio.
Helen Mirren continua sendo uma artista que atravessa o tempo sem jamais deixar de ser contemporânea. Mostra que viço e sensualidade vão muito além da idade. Se é um ícone de nobreza, dá também demonstrações de jovialidade e de excelente humor. Uma atriz e uma estrela.