Provavelmente ninguém quer encontrar um ladrão na rua. No ambiente seguro do cinema e da televisão, no entanto, os espectadores se entregam a um certo fascínio pela complexa figura do larápio. Aprecie os casos de “Lupin” (2021-presente, Netflix) e o Professor de “A Casa de Papel” (2017–2021, Netflix).
É compreensível que exista uma curiosidade pelo fora da lei, sobretudo para quem é honesto e luta para se manter na linha. Além disso, há o ladrão que se apresenta como alguém que luta contra sistemas injustos, como o velho e bom Robin Hood. Outros admiram a engenhosidade de certos patifes, que por isso são glamourizados. Para quem está em paz na sua própria estabilidade doméstica, assistir a um roubo em filmes e séries pode ser muito excitante e sem risco. O cinema e a televisão europeus, por exemplo, estão sempre tentando reinventar o personagem do ladrão. Antigamente era a vez de cavalheiros charmosos que roubavam joias sob o sol da Riviera Francesa, ao estilo dos filmes de Hitchcock. Agora predominam os anti-heróis sombrios e mercenários que planejam assaltos espetaculares. É possível então falar de quatro categorias de patifes: os fora da lei, os engenhosos, os justiceiros e os temerários. Leia o texto completo no site da Voo da Palavra. Link na bio.
Os fora-da-lei
“As Ladras” (2023, Netflix)
No filme dirigido por Mélanie Laurent, Carole (a própria diretora) e Alex (Adèle Exarchopoulos) são duas ladras experientes que decidem se aposentar da vida de crime. Porém, antes de sair de cena, aceitam fazer um último grande roubo. A aventura é ambientada na França atual e se concentra na agilidade, ousadia, humor e improviso das larápias, com esbanjamento de ação e celebração da amizade. Note-se que Adèle Exarchopoulos, 31 anos, é uma atriz francesa em franca ascensão, tendo se destacado no controverso filme “Passagens”, dirigido por Ira Sachs.
“Lupin” (2021-presente, Netflix)
Eis um personagem difícil de classificar. Lupin, mestre dos disfarces, poderia estar em todas as categorias. Mas é certamente um fora-da-lei. A série, criada por François Uzan e George Kay, revitaliza a obra de Maurice Leblanc, criador da personagem Arsène Lupin. Omar Sy, talvez o maior astro do cinema francês contemporâneo, dá um show como protagonista. E Paris, não apenas em sua versão de cartão postal, é uma verdadeira personagem da série. Por meio de golpes sofisticados, Lupin combina vingança, sede de justiça e crítica social.
Os engenhosos
“Ladrão de Casaca” (1955, Amazon)
O filme do britânico Alfred Hitchcock traz o ladrão mais charmoso da história do cinema. Na Riviera Francesa dos anos 1950, o assaltante aposentado vivido por Cary Grant luta agora para limpar seu nome e provar sua inocência. E faz isso de forma estratégica e elegante.
“A Gangue da Luva Verde” (2024-presente, Netflix)
Na série polonesa criada por Joanna Hartwig-Skalska e Anna Novák-Zemplinska, três mulheres idosas se dedicam a furtos e pequenos assaltos da maneira mais disfarçada possível. O tom é cômico, e a emoção do crime aparece como um desafio à velhice. Além da sagacidade da série, há nela a oportunidade de vislumbrar um país pouco explorado pela mídia convencional.
Os justiceiros
“O Duque” (2020, Amazon)
Kempton Bunton (Jim Broadbent) comete um crime simbólico ao roubar uma obra de arte para protestar contra o governo britânico. Ele anuncia que só devolveria a pintura caso televisão fosse fornecida gratuitamente aos idosos. Essa comédia dramática, dirigida por Roger Michell e escrita por Richard Bean e Clive Coleman, funciona como uma bizarra expressão de idealismo. No elenco está também a atriz Helen Mirren.
“A Casa de Papel” (2017–2021, Netflix)
Na Espanha contemporânea, a Casa da Moeda e ao Banco da Espanha são assaltados. As ações são obra do Professor (Álvaro Morte) e realizadas com um planejamento de porte militar. O que está em questão é a resistência política e a denúncia do sistema financeiro. A série, criada por Álex Pina, foi um dos maiores sucessos da história da Netflix.
Os temerários
“O Sol por Testemunha” (1960, You Tube),
O amoral Tom Ripley, magistralmente interpretado por Alain Delon, não se contenta em roubar o patrimônio de sua vítima, mas se apodera também da identidade dela. Essa é a trama do filme dirigido por René Clément a partir da obra de Patricia Highsmith. Ripley, protagonista de vários filmes e séries, é personagem dos mais complexos: manipulador, sedutor, calculista, arrivista, invejoso e eventualmente assassino.
“Exército de Ladrões: Invasão da Europa” (2021, Netflix)
Arrombamentos de cofres são o ponto central do filme de Matthias Schweighöfer. O criminoso em questão é o alemão Ludwig Diete (o próprio Matthias Schweighöfer). É uma narrativa de muita ação, com toques de suspense e comédia em plena Europa contemporânea.