Karl Mor
Na coluna da semana passada faltou falar de uma característica muito cara a Bette Davis:: o “overacting”, ou seja, a atuação exagerada. Isso vem do teatro, onde os atores têm de se comunicar até com quem está na última fileira da sala. Então é preciso projetar bem a voz, fazer gestos e expressões fisionômicas muito intensos, de modo a serem notados.
Quando os atores de teatro vão atuar no cinema as atuações devem ser bem mais sutis, para não ficarem exageradas. É o que dizem de Glenn Close em “O mundo segundo Garp” (1982), filme dirigido por George Roy Hill (este, como os outros filmes mencionados aqui, pode eventualmente ser encontrado no YouTube). Foi a estreia de Glenn no cinema. Havia certamente exagero na atuação dela, que começou sua carreira no teatro, mas isso foi chamado de “bom overacting”, ou seja, algo que torna a interpretação mais eficiente e criativa. Tanto que Glenn recebeu sua primeira indicação ao Oscar por esse filme. No cinema, Glenn, aliás, flertou várias vezes com o “overacting”, chegando mesmo ao “camp” (a estética da afetação, tal como definida pela ensaísta estadunidense Susan Sontag). Basta ver sua interpretação em “Os 101 dálmatas” (1996), filme de Stephen Herek. Essas incursões no “camp” fizeram de Glenn um ícone gay.
O caso mais notório de “overacting”, aí no campo da má atuação, é certamente o de Faye Dunaway. Ela ganhou o Oscar por seu trabalho estupendo em “Rede de intrigas” (1976), de Sidney Lumet, filme em que, diga-se de passagem, ela já exagera bastante, mas na dose certa. O escândalo realmente veio com “Mamãezinha querida” (1981), de Frank Perry, cinebiografia não autorizada de Joan Crawford. Faye exagera tanto que chega à caricatura. No entanto, houve quem gostasse de sua interpretação. De qualquer forma, o principal prêmio que Faye ganhou por “Mamãezinha querida” foi o Framboesa de Ouro de pior atriz. Mas o filme tem um certo humor. Sombrio, talvez.
Bette Davis, a rainha do brilhante “overacting”, não se deixou convencer do talento de Faye Dunaway. Em entrevista de 1988, Bette afirmou que Faye é a pior pessoa em Hollywood. Pena.