As indicações ao Globo de Ouro 2025 confirmaram o favoritismo de “Ainda Estou Aqui” (Filme Internacional) e Fernanda Torres (Atriz em Drama). A campanha pelo filme está principalmente a cargo do distribuidor Sony Pictures Classics. E o resultado nos festivais e entre os críticos estrangeiros tem sido um grande êxito. Ótima notícia, mas esse prêmio, como toda a cena de Hollywood, é um carrossel de contradições.
A premiação de maior prestígio feita pelos críticos estadunidenses é provavelmente a da NYFCC (New York Film Critics Circle ou “Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York”). Na categoria de Melhor Atriz, Cate Blanchett foi premiada pelo Círculo em 2022, por “Tár”, de Todd Field, e Lady Gaga, no ano anterior, por “Casa Gucci”, de Ridley Scott. Cate não ganhou o Oscar, Gaga nem foi indicada. Neste ano, a maldição do NYFCC parece estar se repetindo. A Melhor Atriz de 2024, segundo o Círculo, é Marianne Jean-Baptiste, por “Hard Truths”, de Mike Leigh. Já da indicação ao prêmio Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama, ela foi excluída. Críticos e cinéfilos de todo o mundo estão boquiabertos.
Infelizmente houve vários casos como esses. De qualquer forma, em termos artísticos, ainda vale dizer que os prêmios do Círculo, que contemplou, por exemplo, a atriz Marília Pêra em 1981, por “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, de Hector Babenco, são mais importantes do que o Oscar, um prêmio da e para a indústria cinematográfica anglo americana.
Outras boas notícias também estão no ar. Veja o destaque dado pelo Globo de Ouro 2025 ao trabalho da cineasta indiana Payal Kapadia, nascida em Mumbai no ano de 1986. Indicada ao prêmio de Melhor Direção, ela também concorre na categoria de Filme Internacional por “Tudo que Imaginamos como Luz”. A película narra a árdua trajetória de uma enfermeira na busca da sobrevivência e da realização do desejo. Coincidentemente, “Tudo que Imaginamos como Luz” também foi premiado pelo NYFCC como Melhor Filme Internacional deste ano. Aliás, a indicação ao prêmio de Melhor Direção no Globo de Ouro é um feito extraordinário, já que raramente são lembrados diretores fora dos EUA e da Europa nessa categoria. Mesmo que “Tudo que Imaginamos como Luz” não possa ser considerado favorito ao Globo de Ouro ou ao Oscar, a mera presença do filme indiano, dirigido por uma mulher, entre premiados e indicados, dignifica a temporada hollywoodiana.
As indicações ao Globo de Ouro 2025 ampliaram também a visibilidade da cineasta francesa Coralie Fargeat, criadora de “A Substância”, considerado por muitos críticos o filme do ano. Nele, são abordadas alegoricamente questões contemporâneas, como a obsessão pela beleza e o culto da juventude. Demi Moore, num desempenho sublime, enfrenta o etarismo de forma literalmente fantástica, fazendo pensar no próprio sentido da existência para quem passou dos 50 anos de idade. A luta pela igualdade de gênero está na base do cinema de Coraline.
Pois é, a complicada Hollywood de hoje em dia se rende aos artistas de países distantes e ao empoderamento feminino. Às mulheres não cabe mais apenas o lugar de divas. O ponto de vista passa a ser o delas. Esse é o final feliz.