O filme “Depois da Caçada” (2025, Amazon MGM Studios), de Luca Guadagnino, abre em noite de gala o Festival do Rio deste ano. A película já mobiliza o mundo do cinema, com comentários favoráveis de críticos e presença em eventos internacionais. No topo desse processo está a protagonista vivida por Julia Roberts. Afinal, desde 1987, Julia é personificação do que significa ser uma estrela de cinema. Nascida em 28 de outubro de 1967, em Smyrna, no estado da Geórgia, nos EUA, filha de uma família remediada com vínculos artísticos, cresceu cercada por um ambiente que estimulava a criatividade. Ainda jovem, decidiu se aventurar em Nova York, onde estudou atuação e teve pequenos empregos, até conseguir seus primeiros papéis no cinema no fim dos anos 1980.
Dois anos após sua estreia em um obscuro filme chamado “Firehouse”, dirigido por J. Christian Ingvordsen, ela já se tornava Julia Roberts, atriz indicada ao Oscar por sua atuação em “Flores de Aço” (1989, Mercado Play), de Herbert Ross, em que contracenou com gigantes como Sally Field e Shirley MacLaine. Estava devidamente colocada no mapa de Hollywood. E “Uma Linda Mulher” (1990, Disney+), de Garry Marshall, a transformou em um fenômeno global.
O magnetismo de Julia Roberts sempre foi comparado ao das grandes estrelas da era de ouro de Hollywood. Ela não é apenas uma atriz que interpreta papéis; seus filmes frequentemente são pensados como veículos para sua presença, como se fossem moldados sob medida para ela. É uma intérprete que “abre o filme” — sua simples aparição nos créditos iniciais já garante o interesse do público, como acontecia com estrelas clássicas como Katharine Hepburn ou Bette Davis.
O carisma e uma admirável capacidade de reinvenção fizeram da carreira de Julia Roberts uma performance de versatilidade. Um dos momentos decisivos dessa trajetória foi “Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento” (2000, Sony One), dirigido por Steven Soderbergh, filme pelo qual ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz de 2001. Baseada em uma história real, a película deu a Julia o papel de uma mãe solteira, sem formação jurídica, que descobre que uma grande empresa estava contaminando a água de uma cidade e ameaçando centenas de famílias. Determinada e destemida, Erin desafia preconceitos, pressiona advogados e mobiliza vítimas até vencer uma das maiores ações judiciais ambientais dos EUA. A arrebatadora atuação de Julia Roberts, combinando sensibilidade e humor ácido, transformou sua carreira como artista, provando que ela não era apenas uma estrela milionária, mas também uma atriz dramática de respeito.
Julia voltou a surpreender como a protagonista de “O Mundo Depois de Nós” (2023, Netflix), dirigido por Sam Esmail. Baseado no romance de Rumaan Alam, o filme é um thriller psicológico apocalíptico que acompanha uma família em férias em uma casa de luxo, que tem de lidar com chegada inesperada de estranhos no meio de um colapso tecnológico generalizado. Falhas de comunicação, apagões e sinais de catástrofe mergulham os personagens em uma atmosfera de paranoia. Julia interpreta Amanda, uma mulher cética, desconfiada, que busca controlar cada situação, mas que aos poucos se vê desarmada diante da estranheza dos acontecimentos. Sua atuação, contida e sutil, difere do vigor expansivo de “Erin Brockovich”. Em Amanda, os silêncios, os olhares e os gestos mínimos dizem mais do que as falas. “O Mundo Depois de Nós” ecoa ansiedades contemporâneas ligadas à dependência da tecnologia e à fragilidade das instituições.
Em “Depois da Caçada”, dirigido pelo genial artista italiano Luca Guadagnino e escrito por Nora Garrett, Julia Roberts vive Alma Olsson, professora de filosofia cuja vida se complica quando uma de suas alunas denuncia um colega e amigo próximo por agressão sexual. Esse acontecimento não apenas mexe com sua carreira, mas também reabre feridas pessoais e questionamentos éticos. Alma é uma personagem ambígua, nem heroína nem vilã, mas apenas uma pessoa com suas contradições e dúvidas. Guadagnino cria um ambiente de tensão intelectual e emocional. Julia ocupa o centro da narrativa combinando fragilidade e empoderamento. Assim como nos velhos tempos de Hollywood, é a estrela da atriz que norteia o filme. “Depois da Caçada” é, antes de mais nada, uma trama para que ela explore um novo universo. Já se fala mesmo em um segundo Oscar para Julia pelo filme.
A diversidade nas escolhas de papéis reafirma a condição de Julia Roberts como uma intérprete capaz de traduzir os dramas de sua época. Cada novo filme seu ainda é recebido como um evento, um reflexo do fascínio que ela exerce desde que surgiu. Sua carreira, feita de momentos luminosos e arriscados, demonstra que Julia não apenas sobreviveu às mudanças de Hollywood, mas também se tornou uma referência para os atores das novas gerações.