A quinta temporada de “Slow Horses” estreia neste mês na Apple TV+. A série, no ar desde 2022, é baseada nos romances do escritor britânico Mick Herron, que desconstroem mitos da espionagem e exploram o lado decadente e burocrático do MI5 (o serviço encarregado de proteger a democracia parlamentar britânica e os seus interesses econômicos, além de combater o terrorismo dentro do Reino Unido). Um grupo de agentes do MI5 que cometeram erros graves em campo (os “slow horses”, ou pangarés) é transferido para a Slough House, um departamento sem prestígio, supervisionado por Jackson Lamb (Gary Oldman), um chefe que parece ter desistido da vida. Ele é desleixado, fumante compulsivo, beberrão, capaz dos comentários mais cruéis, mas também dono de uma mente estratégica ímpar.
“Slow Horses” reinventa o gênero de suspense e espionagem. Ao contrário de “Homeland – Segurança Nacional” (2011-2020, Disney+), que investia na paranoia pós-11 de setembro, ou mesmo da sofisticada “The Night Manager” (2016, Prime), adaptada da obra de John le Carré, a série protagonizada por Oldman aposta no anti-glamour. Seus agentes falham, tropeçam e carregam cicatrizes pessoais. A herança evidente da literatura de espionagem britânica mais realista, como a de Graham Greene, ganha uma roupagem contemporânea e sarcástica.
A crítica internacional vem dando forte reconhecimento a “Slow Horses”. Em 2024, a série conquistou o Emmy de Melhor Roteiro em Série Dramática, sobretudo pela excelência de seus diálogos, que combinam humor e suspense. Neste ano, venceu o Emmy de Melhor Direção em Série Dramática, com o episódio “Hello Goodbye”, dirigido por Adam Randall. Uma vitória que surpreendeu a muitos, mas consagrou o estilo narrativo contido e sagaz da produção.
Clássico instantâneo da televisão britânica contemporânea, “Slow Horses” tem no elenco o elemento central de sua engrenagem narrativa. Gary Oldman transforma Jackson Lamb em um personagem a ser lembrado por décadas. Ele humaniza o rabugento e irônico Lamb, livrando o papel de cair na caricatura. Por isso, sua atuação vem sendo celebrada como uma das melhores de uma carreira já consagrada pelo Oscar. Entres os pangarés há uma dama que torna a excentricidade Jackson Lamb palatável. É Diana Taverner, a calculista Vice-Diretora-Geral de Operações do MI5, vivida por Dame Kristin Scott Thomas, que recebeu esse título em 2015 por serviços às artes dramáticas. Sua performance é um exercício de frieza e sutileza, indispensável para revelar o jogo de poder interno da instituição.
O embate entre Diana e Lamb, personagens interpretados por dois gigantes da atuação, é provavelmente o grande trunfo dramático da série, funcionando como um duelo entre ordem e caos, controle e improviso. Oldman constrói uma performance visceral e corrosiva. Kristin é o lado elegante da moeda. Juntos, Lamb e Diana, estabelecem um eixo de tensão: a criatividade contra a disciplina burocrática, a explosão contra o silêncio. Essa complementaridade não apenas torna “Slow Horses” eficiente em termos narrativos, como também oferece ao espectador a possibilidade de acompanhar um encontro de diferentes estilos de interpretação dentro da tradição britânica.