O envelhecimento é uma das maiores preocupações da sociedade contemporânea e também um assunto frequente em filmes e séries. Em 22 de junho deste ano haverá a 29ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, cujo tema é “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”. O evento ocorrerá na Avenida Paulista, palco das grandes manifestações na capital. Para fortalecer a consciência não só sobre a questão, mas também sobre sua incidência no grupo vale a pena conhecer ou rever alguns filmes e séries que abordam a existência de quem envelhece como LGBT+.
Para os que vão à parada ou os que preferirem apreciar o evento pela televisão, os filmes e séries aqui escolhidos podem servir como uma preparação do espírito. A festa deste ano propõe uma reflexão sobre o envelhecimento LGBT+, e as produções sugeridas dão o tom de comédia e drama desse grande evento.
Filmes
- “O Círculo” (2014, Reserva Imovision), drama documental suíço dirigido por Stefan Haupt, intercala de forma brilhante imagens de arquivo, entrevistas e recriação ficcional para contar a história de dois homossexuais desde meados dos anos 1950 em Zurique. Assim, o romance de mais de 60 anos é retomado em duas fases. Na juventude, os dois participavam de uma organização secreta (o Círculo) que sofreu repressão e perseguição policial. Na velhice, eles revisitam seu passado e revelam sua condição atual enquanto se preparam para o casamento, finalmente permitido.
- Uma demência precoce avassala o cotidiano de um casal em “Memórias de Um Amor” (2020, Prime), filme escrito e dirigido por Harry Macqueen. Juntos há muitos anos, Sam e Tusker embarcam numa viagem de van pela Inglaterra rural para aproveitar o que resta da memória de um deles. Na saúde e na doença, os dois envelhecem em buscam de um fim digno. A maturidade do casal serve de valorosa representação da existência LGBT em tempos críticos.
- “Meu Policial” (Prime), dirigido por Michael Grandage e escrito por Ron Nyswaner a partir do romance de Bethan Roberts, traz a história de dois homens que na terceira idade, na década de 1990, refletem sobre escolhas e segredos de seu passado amoroso de 40 aos antes. Na juventude dos protagonistas a homossexualidade era crime na Inglaterra, o que tornava a assunção da orientação sexual extremamente problemática. Na maturidade, eles se reencontram e buscam uma redenção para o relacionamento perdido.
- Ambientado em Hong Kong, “Suk Suk: Um Amor em Segredo” (2019, Netflix), escrito e dirigido por Ray Yeung, conta a história dois homens, um com 65 anos e o outro com 70 anos, que mantêm um relacionamento sexo-afetivo discreto. Estão imersos numa cultura conservadora em que não podem tornar sua orientação sexual pública. O filme aborda o tabu em torno do desejo na velhice e mostra uma comunidade homossexual idosa que é obrigada a viver em um regime de invisibilidade e silêncio.
- Aos 75 anos, um homem revela que é homossexual e que passará a viver abertamente sua sexualidade. Esse é o eixo de “Toda Forma de Amor” (2010, Prime), drama autobiográfico escrito e dirigido por Mike Mills. Trata-se de Hal Fields, que acaba de se tornar viúvo e enfrenta um conflito geracional com seu filho. Numa versão extremamente positiva do desejo na velhice, o filme retrata alguém que se reinventa com alegria na terceira idade e se transforma num exemplo de autenticidade para os mais jovens.
Séries
- A minissérie “Companheiros de Viagem” (2023, Paramount+), criação de Ron Nyswaner (o roteirista de “Meu Policial”) e baseada no romance de Thomas Mallon, percorre décadas, a partir dos anos 1950, de um romance secreto e complexo entre dois homens nos EUA. Desde uma época em que os homossexuais eram perseguidos até o período em que foram obrigados a enfrentar a crise da AIDS, os protagonistas vivem encontros e desencontros para finalmente alcançar uma aproximação maior na velhice.
- Ícone da cultura homossexual, a cena californiana é o coração de “Crônicas de São Francisco” (2019, Netflix), minissérie criada por Lauren Morelli a partir dos livros de Armistead Maupin. E, no entanto, o grande destaque aí vem a ser um refúgio: a casa de Anna Madrigal, uma mulher trans idosa, um porto seguro e fonte de apoio informal para a velhice LGBT. Ao longo de décadas, os personagens de “Crônicas de São Francisco” se adaptam às condições de um mundo grandemente hostil e envelhecem exercitando a solidariedade.
- “Grace e Frankie” (2015-2022, Netflix) é a história de duas mulheres idosas, mas muito ativas socialmente. Grace é elegante, e Frankie é excêntrica. Inicialmente há uma tensão entre as duas. No entanto, elas se unem quando é revelada a homossexualidade de seus maridos, que passam a formar um casal. A série, criada por Marta Kauffman e Howard J. Morris, vai fundo nos desafios dos quatro personagens, que ainda têm de lidar com a reação dos filhos. O humor dá o tom do espetáculo.
- “LGBT+60: Corpos que Resistem” (2020-2025, Globoplay) é uma série documental brasileira com episódios de cinco a 15 minutos que trata justamente de pessoas da comunidade LGBT+ com mais de 60 anos. Criada, escrita e dirigida por Yuri Alves Fernandes, “LGBT+60: Corpos que Resistem” aborda, por meio de depoimentos íntimos e comoventes, solidão e preconceito, repressão e discriminação, a importância política de uma geração e o legado do ativismo.
- A vibrante Nova York underground dos anos 1980 e 1990 serve de cenário para “Pose” (2018-2021, Disney+), criação do notório Ryan Murphy. Embora não sejam ainda idosos, os personagens LGBT da série passam por um doloroso processo de amadurecimento num período marcado pela epidemia de AIDS (HIV). A sobrevivência depende de sacrifícios diários, e a existência só ganha brilho nos bailes que frequentam. A tribo de “Pose” é discriminada pela sociedade conservadora, mas encontra em sua própria convivência um sentido de família.