A série “O Estúdio” (2025, Apple TV+) tem se revelado um grande acontecimento
televisivo: além de contar com um elenco estelar, expõe os bastidores de Hollywood
com inventividade e humor cáustico, o que vem lhe rendendo uma penca de prêmios.
Criada e dirigida por Seth Rogen e Evan Goldberg, a produção investe na comédia
satírica, amplificando os traços mais caricatos da indústria cinematográfica, seus
paradoxos e contradições.
A série reflete a trajetória de seus criadores. Rogen, nascido em Vancouver em 15 de
abril de 1982, iniciou-se no stand-up ainda adolescente e estabeleceu uma carreira como
ator, roteirista, diretor e produtor. Goldberg, seu amigo de longa data, também
canadense, nascido em 11 de maio de 1982, tem atuado como roteirista e produtor. Eles,
que formam uma das duplas criativas mais bem-sucedidas de sua geração, foram
roteiristas do filme como “Superbad: É Hoje” (2007, Amazon). Em mais de duas
décadas em Hollywood, perceberam essa oportunidade para realizar uma sátira sobre os
estúdios.
A trama de “O Estúdio” gira em torno de Matt Remick (Rogen), um
cinéfilo que assume a direção da fictícia Continental Studios e logo descobre o abismo
entre o idealismo artístico e as pressões inescapáveis do mercado. Sua principal
conselheira é Patty Leigh (Catherine O’Hara), veterana da indústria que, com uma
mistura de sarcasmo e desencanto, mostra a Matt os perigos do poder. Nascida em
Toronto em 1954, Catherine destacou-se em filmes como “Fantasmas se Divertem”
(1988, Universal+) e consolidou sua carreira na televisão com “Schitt’s Creek” (2015-
2020), que lhe rendeu os prêmios Emmy, Globo de Ouro e SAG Awards.
Entre os dez episódios da temporada de estreia, o segundo, “The Oner”, tornou-se um
marco. Como um longo plano-sequência, sem cortes visíveis, ele acompanha em tempo
real um dia da produção de um filme da Continental Studios. A câmera desliza pelos
corredores de uma casa e mostra ao espectador como é efetivamente realizada uma
película, com erros e repetições. O episódio ficou célebre não apenas pela ousadia
técnica, mas também pelas participações especiais: Sarah Polley, como ela mesma, no
papel da diretora de um projeto ambicioso, e sobretudo Greta Lee, também
interpretando ironicamente a si mesma como uma estrela em ascensão. Greta, nascida
em Los Angeles em 1983, filha de imigrantes coreanos, ganhou notoriedade em
“Boneca Russa” (2019-2022, Netflix) e “The Morning Show” (2021-, Apple TV+) e
reconhecimento internacional em “Vidas Passadas” (2023, Telecine).
A recepção da série foi entusiástica. Críticos destacaram a direção inventiva, a
fotografia de sofisticada de Adam Newport-Berra, a edição criativa de Eric Kissack e a
capacidade do roteiro de combinar momentos de humor rasgado com situações de
desconforto quase insuportável. O público também acolheu favoravelmente a série,
apesar dessa estranha alternância de comédia maluca com cenas constrangedoras. Nas
premiações, “O Estúdio” fez história: recebeu 23 indicações ao Emmy e conquistou 13
estatuetas, incluindo Melhor Série de Comédia, Melhor Ator em Comédia para Seth
Rogen e Melhor Direção de Comédia (para o episódio “The Oner”).
Mais do que uma mera sátira televisiva, “O Estúdio” se impôs como um retrato incisivo
do funcionamento da máquina hollywoodiana, revelando com humor e desconforto a
tensão permanente entre arte e comércio. Ao relacionar performances de prestígio,
ousadia formal e comentários sociais mordazes, a série não apenas diverte, mas também
convida o espectador a refletir sobre os bastidores do cinema.