DUAS VEZES AMY WINEHOUSE
A cantora inglesa Amy Winehouse (1983-2011) volta ao centro das atenções. Isso por conta do lançamento de “Back to black” (2024/Amazon Prime Video), dirigido por Sam Taylor-Johnson e com roteiro de Matt Greenhalgh. O filme provoca a inevitável retomada de “Amy” (2015/disponível no Youtube), de Asif Kapadia, que recebeu o Oscar de Melhor Documentário de 2016. Amy teve a triste sina de entrar para o chamado “Clube dos 27”, formado por artistas que morreram aos 27 anos: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison (The Doors) e Kurt Cobain (Nirvana).
Amy Winehouse nasceu em uma família judaica. Em sua casa a música era especialmente valorizada, sobretudo o jazz, o soul e o rhythm and blues. A principal influência de Amy foi a cantora estadunidense Sarah Vaughan. Aos 20 anos, em 2003, lançou seu primeiro álbum: “Frank”, uma mistura de jazz, soul e pop, que foi razoavelmente bem recebido no Reino Unido. Três anos depois, veio a consagração com “Back to black”, que incluiu canções como “Rehab” e “You know I’m no good”. O álbum foi o grande destaque dos prêmios Grammy daquele ano. O talento musical precoce conviveu uma saúde frágil: bulimia, depressão nervosa, alcoolismo e, posteriormente, uso de drogas ilícitas. Ao fim, o coração de Amy não resistiu e simplesmente parou.
O documentário de Kapadia aborda vigorosamente a realidade de Amy Winehouse. Apesar de toda a espetacularização dos tabloides, ainda havia muito a ser revelado sobre a intimidade da cantora. No filme, em ordem cronológica, material de arquivo é combinado com vídeos caseiros, apresentações ao vivo, entrevistas e gravações de áudio inéditas. Há momentos com amigos, as primeiras apresentações musicais e a vida em família. Mais do que tudo, é mostrado o relacionamento com Blake Fielder-Civil, inicialmente namorado, depois marido e sempre parceiro nas piores situações.
O grande trunfo de “Back to black” são os atores Marisa Abela (Amy), Jack O’Connell (Blake) e Lesley Manville (Cynthia). Com um porte físico bem diferente da verdadeira Amy, mais alta, muito atraente, Marisa impressiona por reproduzir fielmente a atitude da cantora, sua fragilidade e até mesmo seu jeito de falar, bem como seu desempenho vocal. Ela trabalhou exaustivamente para capturar o timbre de Amy e ousa cantar em um filme sobre uma das maiores intérpretes do século. Outro achado da produção é a química de Marisa com O’Connell. Ele constrói um Blake admirável, uma mistura de cinismo, oportunismo e sedução, num corpo robusto para alguém com tantos vícios. É certamente possível ver em Marisa e Jack a tórrida paixão entre Amy e Blake revelada pelo documentário de Kapadia. Lesley Manville, mais uma vez, rouba a cena e traz para o filme aquele sentimento de perda que corresponde ao persistente luto de Amy.
Do documentário ao filme de ficção, Amy Winehouse continua sendo a grande figura. Tão talentosa, tão jovem, tão frágil. E logo destruída por conta do vício, da fama e do desamor.