Karl Mor
A Argentina tem apresentado um dos cinemas mais criativos do mundo com pleno reconhecimento internacional.
Um exemplo é o trabalho de Juan José Campanella (1959), cujo primeiro filme de destaque foi “O filho da noiva” (2001), com dois dos principais atores argentinos (Norma Aleandro e Ricardo Darín). A película trata da velhice e da memória, em meio a um enredo comovente e romântico. Foi indicada ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Mas o prêmio da Academia veio para Campanella somente em 2009 por “O segredo dos seus olhos”, mais uma colaboração do cineasta com o ator Ricardo Darín. Note-se que o filme foi produzido com o apoio do INCAA (Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales).
Santiago Mitre (1980) é mais um destaque do cinema argentino e mundial. O seu “Argentina, 1985” (2022) também teve Darín no papel de protagonista e foi abordado anteriormente nesta coluna, assim como outros filmes mencionados aqui, em março deste ano. A trajetória da película, um mergulho na dolorosa história recente do país, surpreende no campo das grandes premiações: Globo de Ouro (melhor filme internacional) e Goya (melhor filme íbero-americano), além indicações ao BAFTA e ao Oscar.
Fora do grande circuito, mas plenamente reconhecido, está o cineasta Marco Berger, nascido em Buenos Aires em 1977. Seus filmes são de baixo orçamento, alguns produzidos pela Universidade del Cine, uma instituição privada em que ele estudou. Contudo o resultado artístico é excelente. Trata-se de uma abordagem fílmica da realidade LGBT, sem rodeios. Mas o foco é a complexidade da relação amorosa entre homens. Nada de escândalo ou pornografia. É a revelação de um homoerotismo sutil em que o sentimento supera a excitação. Em algumas de suas películas, há todo um jogo de olhares, que frequentemente conduz a um simples beijo entre os protagonistas.
Espera-se que esse cinema brilhante que a Argentina tem produzido seja preservado. É um extraordinário patrimônio cultural que merece respeito mesmo que os tempos venham a ser sombrios.