Karl Mor
A experiência é recorrente. Você percorre um serviço de streaming que tem um acervo enorme e não encontra nada interessante. É uma sensação estranha. Afinal, parece haver tanta coisa à disposição. Mas é assim mesmo. Esses serviços têm uma coisa ou outra atraente disponível, que geralmente é uma estreia. E não adianta assinar todos os serviços de streaming que existem. A situação vai ser sempre a mesma: somente algumas poucas estreias parecem valer a pena. A solução é garimpar a pedra preciosa do momento em cada serviço.
Na Netflix, por exemplo, duas séries são imperdíveis atualmente. A primeira é “Heartstopper”, uma produção inglesa criada por Alice Oseman a partir de sua própria história em quadrinhos. Trata-se de uma história de amor adolescente LGBT. O tom é suave, delicado. Nada de dramas intensos que acabam em humilhação e desgraça. Em vez disso, encontros razoavelmente felizes em lindas paisagens. Para arrematar, um elenco afiado com a participação da ganhadora do Oscar Olivia Colman. Aliás, a segunda temporada tem como ápice uma viagem escolar a Paris. No entanto, nada ver com “Emily em Paris” e sua estética de cartão postal. É apenas isso: uma breve temporada de alguns jovens em Paris, que é apresentada com singeleza e simplicidade. Um outro destaque recente da Netflix é “Sintonia”. Aí estamos muito longe de jovens que descobrem o amor no paraíso britânico. A série, que já está na quarta temporada, é ambientada em uma favela de São Paulo. Os três protagonistas enfrentam os dilemas da juventude e convivem com música funk, violência e religião. “Sintonia” foi criada por KondZilla, Felipe Braga e Guilherme Moraes Quintella. O espectador é transportado para a realidade da periferia por meio de um tratamento visual impecável. A cenas de baile funk são empolgantes. Finalmente são retratados moradores de favela de forma convincente. Não há vítimas nem algozes, mas sim seres humanos complexos em busca de luz. Afinal, para quem tem paciência e curiosidade os serviços de streaming acabam valendo a pena.